Muitos utilizadores já compreendem que comprar um jogo digital tipicamente concede uma licença para aceder ao software e não a sua propriedade. No entanto, é raro que as editoras revoguem o acesso a títulos pelos quais os clientes pagaram, mesmo depois desses jogos serem retirados dos seus catálogos. O The Crew da Ubisoft destaca-se como um caso particularmente flagrante, espoletando uma batalha legal sobre o que verdadeiramente significa “comprar” um jogo.
A resposta da Ubisoft a uma acção judicial sobre um jogo online encerrado recentemente argumenta que os clientes pagantes nunca foram verdadeiramente donos do título. O caso desencadeou mais apelos para a criação de legislação para proteger os utilizadores quando os jogos atingem o fim da sua vida útil.
Dois queixosos residentes na Califórnia intentaram uma acção contra a Ubisoft no ano passado depois de a empresa ter encerrado os servidores do jogo The Crew, citando restrições de licenciamento. As editoras frequentemente retiram de catálogo jogos de condução como The Crew e Forza Horizon quando os acordos de licenciamento com fabricantes de automóveis expiram.
Os utilizadores tipicamente mantêm o acesso aos jogos que compraram antes da remoção de catálogo, e as cópias físicas, em DVD ou Blu ray, frequentemente continuam a funcionar. No entanto, The Crew é um título exclusivamente online, e uma vez que a Ubisoft desactivou os servidores, iniciar o jogo apenas arranca uma versão de demonstração com muitas restrições. Adicionalmente, a Ubisoft removeu o jogo das bibliotecas Ubisoft Connect dos clientes, oferecendo reembolsos apenas àqueles que o compraram recentemente.
Os queixosos, que compraram cópias físicas do título lançado em 2014, alegam que a Ubisoft induziu os clientes em erro. Apontam também para outros jogos que receberam modos offline quando atingiram o fim da sua vida útil como um precedente mais justo.
Em resposta, a Ubisoft argumentou que a embalagem do The Crew afirma claramente que a compra apenas concede uma licença temporária, e que o prazo de prescrição para a reclamação já expirou. Ainda assim, a companhia comprometeu-se a introduzir modos offline para The Crew 2 e The Crew Motorfest.
Entretanto, os queixosos mudaram de estratégia para argumentar que a moeda de jogo do The Crew se qualifica como um vale-presente de acordo com a lei da Califórnia, que proíbe a sua expiração. Apontaram também para a embalagem do jogo, que afirma que os códigos de activação permanecem válidos até 2099, implicando que o jogo deveria permanecer disponível para download até então. Adicionalmente, os queixosos alegaram que o prazo de prescrição só começou em 2023, quando a Ubisoft anunciou os seus planos para encerrar os servidores.
Em resposta à decisão da Ubisoft, uma petição exortou o governo canadiano a introduzir protecções para os jogos online. Os peticionários apelam à criação de legislação que exija às editoras de videojogos removam as dependências de servidores e anulem os Acordos de Licença de Utilizador Final. A Iniciativa Stop Killing Games está a dirigir exigências semelhantes a vários governos.
À medida que as compras digitais e os jogos de serviço ao vivo se tornam mais prevalentes, a questão está longe de estar resolvida. A Ubisoft, enquanto promove o seu serviço de subscrição, sugeriu previamente que os consumidores deveriam habituar-se a não serem donos dos seus jogos.
A Valve reconheceu a pressão legal ao actualizar os termos de utilização da loja Steam para clarificar que os clientes não estão a comprar a propriedade permanente dos jogos, de acordo com a lei da Califórnia. Em contraste, a GOG troçou do aviso da Valve ao enfatizar a sua política de oferecer instaladores offline sem DRM para todos os títulos.