A história é conhecida: durante anos, a Nokia foi a principal marca de telemóveis do mundo, mas, numa altura em que Apple e Samsung começaram a lançar smartphones, com ecrã táctil, preferiu continuar com os seus modelos simples. Quando apanhou este “comboio” já era tarde.
Esta é uma realidade que, agora, parece aplicar-se à iRobot: a marca norte-americana de aspiradores não aplicou sempre as mais recentes tecnologias de sensores e câmaras aos seus modelos e acabou ultrapassada por várias marcas chinesas.
Por exemplo, Xiaomi, Anker, Ecovacs, Roborock e Dreame começaram a lançar modelos mais avançados e com um preço mais baixo, o que acabou por levar os consumidores a optar pelos seus modelos em detrimento dos Roomba.
Os problemas na iRobot não são de agora: desde o final de 2023, a empresa já despediu 51% dos funcionários e, no mesmo ano, contraiu um empréstimo de quase duzentos milhões de euros para financiar as operações enquanto aguardava pela conclusão de um acordo de 1,3 mil milhões de euros com a Amazon que nunca chegou a acontecer, em 2024.
Nos últimos meses, a iRobot tem «lutado para gerar liquidez e reduzir a sua dívida», lembra a CNBC. O mais recente episódio nesta “queda” aconteceu esta Quarta-Feira: as acções caíram mais de 30%, depois de a empresa «admitir que há dúvidas substanciais sobre a sua capacidade de continuar a operar», no seu relatório de resultados de 2024.
Neste documento, a marca fala numa «fraca procura dos consumidores, incertezas tarifárias e um aumento da concorrência» e aponta a um cenário negro: «Dadas estas incertezas e o impacto que podem ter nas finanças da empresa, há dúvidas substanciais sobre a nossa capacidade de continuar a operar nos próximos doze meses».
O relatório dá ainda conta de que as receitas do quarto trimestre caíram 44% em relação ao ano anterior, totalizando 172 milhões de dólares, abaixo das previsões de 180,8 milhões apontadas pela consultora FactSet. A empresa registou, ainda, um prejuízo líquido de 77,1 milhões de dólares, equivalente a 2,52 dólares por acção (todos estes valores em dólares são semelhantes, em euros).
Esta semana, a marca apresentou novos robots aspiradores, mas reconhece que «não há garantias de que os novos produtos sejam bem-sucedidos». Ainda assim, há a esperança de que as novidades possam «reposicionar a iRobot como líder no segmento que criou», disse o CEO, Gary Cohen, em comunicado.
O lançamento destes robots pode ser mesmo o canto do cisne da iRobot tal como a conhecemos: a empresa diz estar, agora, numa fase de «revisão estratégica», onde o refinanciamento da dívida, ou mesmo uma venda, estão em cima da mesa.