Mais de 1.000 músicos, incluindo Kate Bush, Tori Amos e Annie Lennox dos Eurythmics, lançaram um álbum silencioso em protesto contra as propostas de alterações às leis de direitos de autor da Grã-Bretanha. As novas regras podem permitir que as empresas usassem o trabalho dos artistas para treinar os seus modelos de Inteligência Artificial sem permissão dos detentores dos direitos. O álbum, intitulado Is This What We Want?, apresenta gravações de estúdios e salas de espectáculo vazias. Os organizadores dizem que isto representa o impacto potencial nos meios de subsistência dos artistas, e na criatividade em geral, caso os planos do governo avancem.
O Reino Unido apresentou propostas que permitem às empresas de IA treinar os seus modelos em qualquer material a que tenham acesso legal. De acordo com a nova lei, quaisquer criadores ou empresas que não queiram que o seu trabalho seja usado desta forma têm de optar por sair, uma opção que foi considerada injusta e impraticável.
Ed Newton-Rex, o compositor britânico e ex-executivo de IA por detrás do álbum, disse: “A proposta do governo entregaria o trabalho de uma vida dos músicos do país às empresas de IA, gratuitamente, permitindo a essas empresas explorarem o trabalho dos músicos para os ultrapassar.”
“É um plano que não só seria desastroso para os músicos, mas que é totalmente desnecessário: o Reino Unido pode ser líder em IA sem atirar as nossas indústrias criativas de classe mundial para debaixo do autocarro.”
O artista responsável por cada uma das 12 faixas silenciosas do álbum não é creditado, mas mais de 1.000 artistas aparecem como co-autores. Acredita-se que Kate Bush gravou uma das faixas no seu estúdio.
Bush, cuja popularidade que voltou à ribalta depois de o seu tema Running Up That Hill (A Deal with God), editado em 1985, ter sido usado num episódio da 4ª temporada de Stranger Things, disse: “Na música do futuro, as nossas vozes ficarão por ouvir?”
Outros co-autores incluem Tori Amos, Billy Ocean, The Clash, Damon Albarn dos Blur/Gorillaz e Annie Lennox. As listas de faixas expressam a mensagem em inglês: ” The British government must not legalise music theft to benefit AI companies (O governo britânico não deve legalizar o roubo de música para beneficiar as empresas de IA)”.
O álbum está disponível no Spotify. Todas as receitas revertem para a Help Musicians, uma instituição de caridade do Reino Unido que apoia músicos actuais e que já se retiraram.
Respondendo ao álbum, um porta-voz do governo disse que as leis de direitos de autor actuais e IA são um impedimento para as indústrias criativas, os média e o sector da IA de “realizarem todo o seu potencial”.
“Temos interagido extensivamente com estes sectores ao longo do tempo e continuaremos a fazê-lo. Nenhuma decisão foi tomada”, acrescentou o porta-voz.
O Primeiro-Ministro do Reino Unido, Keir Starmer, delineou uma estratégia para posicionar o Reino Unido como líder global em IA, com o lançamento do ‘AI Opportunities Action Plan’ que inclui iniciativas como as AI Growth Zones, a National Data Library e um aumento de vinte vezes na capacidade de supercomputação até 2030. O plano visa também integrar a IA nos serviços públicos para aumentar a eficiência.
O período de consulta pública sobre as alterações à lei de direitos de autor acabou ontem. Outros protestos incluiram vários jornais diários a mostrar o slogan “Make It Fair” nas suas primeiras páginas. Há também uma carta no The Times a criticar as propostas, assinada por 34 criativos, incluindo a produtora de cinema Barbara Broccoli que gere em conjunto com a Amazon a série de filmes 007, a autora de Bridget Jones, Helen Fielding, o actor Stephen Fry, o compositor Andrew Lloyd Webber e o músico Ed Sheeran.