Uma equipa com várias instituições científicas e de ensino europeias usou o telescópio espacial James Webb com o objectivo de «observar objectos celestes para revelar o melhor vislumbre do gelo primordial». Neste grupo está Portugal, representado pelo cientista Nuno Peixinho, investigador da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) e do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA).
A observação incidiu sobre duas áreas: a Cintura de Kuiper (uma região que começa depois da órbita de Neptuno e se estende por 7500 milhões de quilómetros além do Sistema Solar) e uma zona que fica imediatamente antes de a Cintura de Kuiper começar, entre as órbitas de Júpiter e Neptuno.
De ambas fazem parte vários corpos gelados que os cientistas acreditam serem o que resta da formação do Sistema Solar. Na Cintura de Kuiper, a análise incidiu sobre os objectos «transneptunianos (TNOs2)»; na outra, o alvo foram os Centauros, que, eventualmente, podem dar origem a cometas, caso sejam «empurrados para órbitas ainda mais próximas do Sol». Na foto de destaque está uma recriação «artística» de um destes objectos, enviada pela FCTUC às redacções.
Nuno Peixinho explica que, depois de «mais de trinta anos» a estudar os «objectos ricos em gelos da Cintura de Kuiper», os cientistas conseguiram «finalmente identificar a presença de gelos de água, dióxido de carbono e metanol e de algumas moléculas orgânicas».
O estudo dos Centauros e dos TNOs2 foi publicado na revista Nature Astronomy, na semana passada, e apresentam os resultados da análise «química e dinâmica» feita a estes corpos celestes, assim como os seus potenciais «lugares de nascimento» e as «transformações» ocorridas assim que se começam a aproximar do Sol.
Noemi Pinilla-Alonso (líder desta equipa e investigadora na University of Central Florida e Instituto de Ciencias y Tecnologías Espaciales de Asturias – ICTEA) lembra que a importância desta descoberta faz com que, agora, se possa afirmar que o «factor mais determinante na composição actual da superfície destes corpos é o material disponível no disco pré-solar na altura da formação dos planetesimais, objectos sólidos com um diâmetro superior a um quilómetro».
Os cientistas concluíram, assim, que o «estado actual dos objectos transneptunianos está intimamente ligado ao inventário de gelos no nascimento do Sistema Solar, como se fosse uma fotografia congelada desse tempo». Pode ler mais sobre esta descoberta no site da FCTUC.