Decerto, não é culpa minha que as minhas últimas divagações nesta coluna se tenham centrado em inteligência artificial, mas sou obrigado, uma vez mais, a trazer a questão à ordem do dia, até porque o assunto ‘Apple e IA’ é vasto: creio não falar apenas por mim, se disser que estou curioso quanto ao que aí vem. Adensam-se as informações sobre qual dos modelos tecnológicos já existentes será integrado no hardware (e por tabela, em aplicações) e que números podem estar envolvidos.
Eu sei que já ninguém se lembra, mas da última vez que se mencionaram cifras sobre a integração de tecnologia third party em produtos Apple, foi a propósito das milionárias somas que a Google paga a Cupertino pelo uso do motor de busca como opção primária, no seu software. Não consigo precisar a fonte neste momento, mas, e só num ano (em 2022) ventilaram-se vinte mil milhões de dólares. Agora, a negociação, dizem, acontece ao contrário, com a Apple a negociar, não a introdução directa da tecnologia, mas o seu uso técnico embebido; em termos teóricos, isto faz mais sentido, por razões que não será preciso ter um qualquer curso de engenharia de sistemas para entender. E falo num cenário de um só fornecedor, porque há também gurus da previsão que assumem que as fontes podem ser várias e que todas se acomodarão debaixo de um chapéu chamado ‘Siri’ (o que também pode ter a sua lógica ). Seja lá quem for o escolhido para receber o cheque assinado pelo CFO de Cupertino, há aqui uma ou outra questão que é preciso abordar. Entre ambos, OpenAI ou Google, quem é que estará mais bem infra-estruturado para receber um “tsunami” de tráfego e de processamento de dados “providenciado” pela entrada em jogo de milhões de equipamentos que a eles recorrerão, entre iPhone e iPad e o que mais adiante se suceda no panorama desta generosa fatia da indústria?
Colocaria as minhas fichas no quadradinho Google, por isto e pelo facto ser mais fácil lidar com velhos conhecidos que com parceiros novos (estou a ser um bocadinho paternalista, mas não me lembro de ter havido um primeiro ano fácil, quando se trata de integrações “radicais”). Também não antevejo questões de cariz filosófico fundamentais, como, (rufos) as da privacidade e segurança no tratamento de “oceanos” de informação, seja qual for o parceiro escolhido para a função matrimonial. Obviamente, esta questão só se coloca se houver processamento externo (o que creio que a Apple evitará mesmo que a factura venha a ser maior. O que tenho como garantido é que a Apple não se poderá dar ao luxo de ter uma entrada tímida nesta questão. Seria péssimo começar aos solavancos numa corrida em que não está, nem de perto, nem de longe, no pelotão da frente. O que já é também péssimo.