Quando eu era pequenino, isto é, quando era responsável por fazer crescer uma quota de mercado Apple deveras diminuta em território nacional, sonhava com o dia em que pudesse ser dominante. Bom, será manifesto exagero. Já ficaria feliz se a duplicasse a cada ano, o que ainda assim continuava a ser um sonho bastante audaz. Agora que já escrevi uma montanha de hipérboles, sou capaz de insistir no sonho que tinha, de impor regras, coisa que, quando se é pequenino, sabemos ser difícil de acontecer, a não ser que tenhas bons argumentos e um pau muito grande nas mãos para reforçar a posição de diálogo. Sim, é isso, as posições dominantes nos mercados dão-nos excelentes argumentos de negociação e têm ainda um efeito mais surpreendente no crescimento dos varapaus…
Não tenho pretensões a ser economista, estive quase sempre do lado que transforma a ficção em economia (são os mercados, totó!), mas irrita-me verdadeiramente que alguém passe uma vida a tentar conquistar território (e o consiga), chegue a uma altura em que um conjunto de pessoas (também com bons argumentos e poder) e diga ao conquistador: «Você veja lá isso, já tem território a mais e construiu um castelo quase inexpugnável, onde só entra quem você deixa, isso não pode ser…». Sim, é um pedacinho irritante: há anos que digo que as empresas e marcas crescem e conquistam terreno com as suas armas. Assim, seria normal que só deixassem brincar os outros meninos, impondo regras, por vezes duras e injustas, mas que são opcionais. Ninguém obriga ninguém a jogar à bola quando se não quer.
Tenho a certeza de que muitos leitores não concordarão em nada com esta minha tese e a Comunidade Europeia também não, dado que, depois de uma queixa do Spotify, multou a Apple em dois mil milhões de dólares – não tenho a certeza de viver anos suficientes para a ver pagar. Abuso de posição dominante, dizem os especialistas. Como se a posição dominante não fosse já tendencialmente abusiva… como se uma dada marca ou serviço, tivesse de obrigação de informar os seus clientes sobre outros locais de compra de produtos concorrentes (ou iguais, como no caso da música por streaming), coisa que não acontece, não ou acontecerá, em qualquer outra plataforma ou produto.