Tal como já aconteceu com o vinil, as cassetes estão a voltar a ser usadas: há a artistas e bandas a fazerem novas edições ou reedições de álbuns neste formato. Quem tem cassetes antigas sabe como algumas são verdadeiras raridades: mixtapes insubstituíveis que fizemos ou gravações de familiares e amigos. Mas o que fazer se aquele velhinho leitor de cassetes que temos se avariar ou a fita da cassete partir? A nossa sugestão passa por fazer cópias digitais para evitar perder esses áudios. Para isso, usamos um leitor de cassetes e o software gratuito de edição de áudio Audacity.
1 – Identificar ligações
Comece por dar uma vista de olhos às entradas do computador; se tem um desktop é quase certo que terá uma entrada para auscultadores, uma de line e outra para microfone; é esta que pode usar para ligar o leitor de cassetes. Trata-se de um jack de 3,5 mm, muitas vezes com uma imagem ou símbolo de um microfone. Caso esteja a usar um portátil, pode utilizar as entradas USB-A, USB-C ou um dispositivo áudio que tenha uma entrada line ou de microfone num dos lados e um USB no outro. Walkmans e leitores de cassetes antigos têm uma ligação para auscultadores que pode utilizar: em alguns aparelhos topo de gama, esta saída pode ser maior, ou seja, um jack de 6,35 mm, mas o mais normal é haver uma ligação onde entra o que é conhecido como mini-jack (3,5mm). Há ainda a possibilidade (pouco provável) de ter uma entrada RCA (dupla para os canais de áudio direito e esquerdo (memorize que o red, ou seja, o vermelho é para o canal right, isto é direito) ou phono. No primeiro caso, será preciso um cabo diferente.
2 – Configurar o Audacity
Depois de ligar o computador e o leitor de cassetes, faça o download do Audacity em audacityteam.org/download. Escolha a opção ‘Windows’ > ‘64 bit installer (recommended)’; caso tenha um computador mais antigo poderá ter de seleccionar a opção de 32 bit. Faça a instalação do Audacity, abra o software e seleccione a entrada de áudio correcta, já que este pode estar configurado para gravar uma fonte de áudio interna em vez de externa. Para isso, vá a ‘Audio Setup’ > ‘Dispositivo de Gravação’ e escolha a entrada do microfone. Se tiver ligado um adaptador de som USB, e este não estiver a aparecer, clique em ‘Reencontrar Dispositivos de Áudio’ [3]. Em seguida, volte ao menu ‘Dispositivo de Gravação’ para ver se a opção já aparece. Se não, verifique se o mesmo está listado no ‘Gestor de Dispositivos’: abra o menu ‘Iniciar’ do Windows, escreva dispositivo e clique em ‘Gestor de Dispositivos’. Clique na seta do menu suspenso ao lado de ‘Entradas e saídas de áudio’ e verifique se o dispositivo está listado [4]. Caso não esteja, isto significa que não foi reconhecido pelo Windows; por isso, tente desligar e ligar, verificando também se tem o controlador mais recente.
3 – Definir a taxa de amostra e o formato
Clique em ‘Definições de Áudio’ no menu ‘Audio Setup’ para ver as diferentes configurações que pode usar para controlar a qualidade da gravação. Verifique novamente se o dispositivo correcto está seleccionado na secção ‘Gravando’, onde também pode escolher entre as opções mono e estéreo . Se estiver a gravar de uma fonte mono, como alguns álbuns antigos ou muitas gravações caseiras, faz sentido optar por mono, para ficar com um ficheiro mais pequeno.
Certifique-se de que a ‘Taxa de Amostra do Projecto’ é de pelo menos 44 100 Hz, o padrão dos CD. Se nunca ouviu falar do termo ‘taxa de amostra’, trata-se da frequência com que o programa capta um bocado de áudio e o adiciona ao ficheiro digital. Se estivesse a 1 Hz, significava que ia fazer o sample de um tom por segundo; a 2 Hz seria um tom a cada meio segundo e assim por diante. Como não há intervalo entre os tons que ouvimos, números mais altos de taxa de amostra equivalem a um maior número de amostras por segundo e resultam num som mais nítido. Fazendo uma analogia com uma fotografia e os pixels, se uma imagem tiver apenas 800 x 600 e for impressa em formato A4, vai parecer ter uma qualidade inferior à de uma fotografia impressa com o mesmo tamanho, mas com 4000 x 3000. Isto acontece porque os pixéis se tornam demasiado pequenos para os nossos olhos os distinguirem, tal como as amostras individuais no ficheiro de áudio se tornam demasiado curtas para os nossos ouvidos detectarem onde pára uma e começa a seguinte.
Agora vamos definir o ‘Formato de Sample Definido’, uma medida da gama de tons que podem ser utilizados para compor a waveform. Estes sons são como as cores na comparação fotográfica que mencionámos anteriormente. Assim, se a escala usada para gravar o áudio for dividida numa gama mais fina de tons, pode fazer uma cópia mais precisa da cassete. Os CD, que normalmente são considerados de maior qualidade que as cassetes, costumam usar uma codificação de 16-bit, por isso, vamos usá-la. Altere o ‘Formato de Sample Definido’ dos ’32-bit float’ pré-definidos para ’16-bit’. Ao fazer isto, é pouco provável que reduza significativamente a qualidade, mas pode ajudar a ter um ficheiro de tamanho pequeno.
4- Gravar a cassete
Depois destes passos, está tudo pronto para fazermos a primeira gravação. Feche a caixa ‘Definições de Áudio’, carregue no botão vermelho ‘Gravar’ na barra de ferramentas do Audacity e faça play no dispositivo de reprodução onde tem a cassete. Pode clicar ou não no ‘Stop’ depois de cada faixa, mas preferimos gravar tudo de uma só vez e depois fazer os cortes necessários. Desta forma, pode aplicar correcções a toda a gravação, se necessário, em vez de ter de repetir a edição em cada faixa individualmente. Imaginemos que está a gravar áudio de uma cassete que foi tocada tantas vezes que a fita começou a esticar e as vozes podem ter um tom ligeiramente mais baixo e soarem mais lentas do que o habitual. É possível corrigir esta situação seleccionando toda a gravação com ‘Ctrl+A’ e, depois, indo a ‘Efeitos’ > ‘Tom e Tempo’ > ‘Change Speed and Pitch’. No menu que aparece, modifique o valor de ‘Percentagem a Alterar’ para 10 (isto aumenta a velocidade em 10%) e clique em ‘Antever’, para ver se a mudança foi suficiente. Se for, faça ‘Aplicar’; caso contrário vá alterando o valor e carregue apenas no botão ‘Aplicar’ quando estiver satisfeito com o resultado. Em seguida, é melhor dar o tom habitual à voz: para isso, vá novamente a ‘Efeitos’ > ‘Tom e Tempo’, mas desta vez escolha ‘Alterar Tom’. Neste menu, seleccione ‘Percentagem a Alterar’ e deslize o slider até ao número oposto ao que usou anteriormente, ou seja, no nosso caso -10. Faça ‘Antever’ e se estiver tudo OK, clique em ‘Aplicar’.
5 – Cortar e guardar as faixas
Depois de corrigir a gravação, tem de a dividir para criar faixas individuais. A forma mais fácil de o fazer é seleccionar e copiar cada uma delas para um novo ficheiro. Pode ver onde começam e acabam olhando para a waveform: quando vir uma linha plana, isto significa que existe um silêncio. Clique no início de uma faixa e, em seguida, mantenha premido o botão do rato enquanto o arrasta para o final da faixa onde começa o silêncio. Se precisar de aumentar o zoom na forma de onda para fazer isto com precisão, carregue nas teclas ‘Ctrl+1’; se precisar de diminuir o zoom para ver toda a faixa, faça ‘Ctrl+3’. Quando tiver seleccionado a faixa por inteiro, clique ‘Ctrl+C’ para a copiar, seguido de ‘Ctrl+N’, para criar um novo ficheiro em branco e ‘Ctrl+V’, para colar a faixa. Guarde a faixa carregando nas teclas ‘Ctrl+S’ e repita o processo até ter todas as músicas de forma individual.