Depois de em 2018 a Microsoft ter lançado o Xbox Adaptive Controller, um hub que permite a ligação de acessórios adaptados para permitir às pessoas com dificuldades motoras usarem jogos para PC e Xbox, a Sony lançou o PlayStation Access, que mistura as funcionalidades do Adaptive Controller com as de um comando para PS5 completo.
Design
O PlayStation Access tem um corpo principal redondo com 8 botões de grandes dimensões a toda a volta mais um na parte central. Estes botões são completamente programáveis e dentro da caixa estão peças de vários tamanhos que servem para adaptar o funcionamento desses botões às necessidades de cada utilizador. Estão disponíveis botões individuais, mais estreitos, e botões que permitem simular a pressão em dois botões em simultâneo.
O Access também tem um joystick que está ligado ao corpo principal através de uma peça que permite ao utilizador alterar a distância entre o joystick e o corpo. A parte de cima do joystick também pode ser alterada entre um manípulo esférico, que faz lembrar os dos jogos de arcade dos anos 80, e dois manípulos mais achatados em borracha. Mais uma vez, esta quantidade de manípulos diferentes serve para adaptar o funcionamento do Access às necessidades de cada utilizador. Para facilitar o acesso aos botões na lateral do círculo, o joystick também pode ser rodado para uma das quatro posições possíveis.
Como os botões são independentes da funcionalidade que lhe pode ser atribuída pelo software, dentro da caixa ainda estão pequenos apliques de borracha que podem ser fixados no topo dos botões para denotar a sua função equivalente num DualSense tradicional.
Para facilitar a programação das funções dos botões, é possível criar perfis de utilização para guardar as definições do mapeamento. A memória interna do Access permite guardar até três perfis e podem ser guardados até 40 perfis no armazenamento da consola.
Se nenhuma configuração possível do Access for conveniente, o comando também permite ligar até quatro acessórios externos, como os que fazem parte do Adaptive Gaming Kit da Logitech que inclui um pedal e três botões de tamanhos diferentes que podem ser montados noutras posições para facilitar o controlo dos jogos.
Na parte de baixo estão furos que permitem montar o Access em suportes desenhados para o apoio às pessoas com limitações físicas através do padrão AMPS.
Por fim, tal como nos comandos DualSense está presente uma entrada USB Type-C para carregar a bateria do Access. A qualidade da montagem e dos materiais é muito boa o que permite que o Access aguente mesmo as utilizações mais pesadas.
Montagem e configuração
Depois de instalar os botões da forma mais conveniente, colocar os emblemas relativos ao que cada botão faz e ligar o comando à consola, o software da PlayStation 5 tem um assistente que serve para guiar o utilizador pelas várias configurações. No geral, a configuração inicial é bastante simples. O processo de ligação à consola é semelhante ao do DualSense e depois o software guia o utilizador na criação do primeiro perfil de utilização.
Uma das críticas que se fazem ao PlayStation Access é que, muitas vezes, a instalação dos botões tem de ser feita por outra pessoa porque a dimensão dos encaixes pode oferecer algumas dificuldades de montagem a quem tiver dificuldade em fazer movimentos mais finos. Não tendo dificuldades motoras o processo de encaixe e remoção dos botões é simples, mas acredito que em muitos casos seja necessária a intervenção de outra pessoa principalmente para libertar os botões quando é necessário.
Utilização
O principal ponto fraco do PlayStation Access é ter de explorar bastante para encontrar uma configuração que se adapte ao utilizador de jogo para jogo. O assistente permite adaptar facilmente os botões às necessidades específicas de cada utilizador mas depois é necessário configurar o que cada botão faz em cada jogo individualmente. Há quase tantas formas diferentes de controlo como há jogos e o Access, por vezes, não tem botões suficientes para mapear tudo nem algumas funcionalidades que são absolutamente necessárias para progredir em certos títulos.
Por exemplo, há jogos na terceira pessoa que têm controlo de câmara automático, noutros é manual e isto é um problema que pode ser resolvido essencialmente de duas maneiras: A primeira é usar dois PlayStation Access, um para controlar a personagem e outro para controlar a câmara, o que implica um investimento extra tanto monetário como de tempo de configuração. A segunda é criar pelo menos dois perfis, um para a câmara e outro para a personagem e alternar entre eles durante o jogo através do botão que está junto ao joystick analógico.
Como só tinha um comando, experimentei a segunda hipótese e funciona surpreendentemente bem depois de nos habituarmos. Mas o trabalho de configuração é um processo de tentativa e erro que vai consumir bastante tempo e que vai obrigar a ter alguma paciência.
Na minha experiência pessoal, para facilitar, o ideal é identificar primeiro os comandos mais usados em cada jogo e priorizá-los nos três perfis que pode guardar na memória do comando. Dá trabalho, mas funciona.
Apesar da versatilidade, por vezes, é mesmo necessário usar um DualSense porque o Access não tem o touchpad que está no centro do comando padrão da PlayStation 5 e que é necessário para progredir em alguns jogos.
A bateria dura cerca de 9 horas, o que é uma excelente surpresa.
Também funciona em PC
O PlayStation Access também funciona em PC através do Steam. Permite fazer quase tudo, menos guardar os perfis de utilização. Por isso, quando se desliga o dispositivo é necessário voltar a defini-los. Seria interessante a Sony lançar um software específico para integrar melhor o Access com o Windows e Linux.
Testemunhos reais
Eu não sou o utilizador típico deste tipo de hardware, por isso a Sony teve a amabilidade de emprestar alguns conjuntos compostos por um Access e uma PlayStation 5 a várias pessoas que têm dificuldades motoras para darem as suas impressões acerca deste hardware.
As pessoas a quem a Sony deixou experimentar o novo hardware foram a Catarina Oliveira que é a responsável pela conta de Instagram ‘Uma espécie rara sobre rodas’ em que fala sobre inclusão e das suas experiências como pessoa com deficiência motora, também faz palestras e dá consultas de nutrição. E Pedro Teixeira, que tem paralisia cerebral que lhe causa algumas dificuldades de motricidade fina e é o responsável pelo canal de YouTube e Instagram ‘Tecla3’ em que fala, entre outras coisas, de tecnologias para pessoas com deficiência e de problemas de acessibilidade. Coloquei-lhes várias perguntas sobre a experiência de configuração e utilização que tiveram com o PlayStation Access.
E foi isto que disseram:
O que foi necessário para que pudesses começar a usar o comando para jogar (alteração de botões, alteração de mapeamento e posição das teclas)?
Catarina: “O comando sai da caixa em “branco” e confesso que me assustei quando abri a caixa, mas depois a PlayStation guia-nos pela configuração e personalização do comando.”
Pedro: “Achei-o muito intuitivo e muito fácil de configurar. Há todo um passo-a-passo explicativo do comando. Tudo é modular e tu atribuis as funções que quiseres. E há três opções para o joystick há dois em borracha e um que faz lembrar os joysticks arcade que foi o que me adaptei melhor.”
Catarina: “A Sony disse que ia haver período de adaptação e nós ainda estamos nesse período. No início usei uma configuração, aqui já experimentei mais duas configurações e já percebi que tenho de fazer alterações. Acredito que quanto mais usar, melhor fica a performance no jogo. O comando tem três perfis, o que permite ir alterando o funcionamento consoante as tuas necessidades.”
Pedro: “Quando o tirei da caixa foi montando as teclas principais e fui distribuindo e assim tem ficado. Houve um jogo em que senti necessidade de usar um botão que simula a combinação de teclas. Pus o jogo em pausa e montei essa tecla. Mudei também quando experimentei um jogo de carros porque senti a necessidade de colocar as teclas para o acelerador e para o travão numa disposição diferente para dar uma melhor jogabilidade.”
Se pudesses retirar, mudar ou acrescentar alguma coisa ao Access, o que seria?
Catarina: “O encaixe dos botões pode não ser acessível a toda a gente e as pessoas com algum condicionamento específico podem não ser capazes de o fazer autonomamente. É uma coisa para que pode olhar no futuro. Outra coisa é o encaixe dos identificadores nos botões. O comando também podia ter vibração com uma função para ligar e desligar porque a vibração pode afectar algumas questões de acessibilidade.”
Pedro: “Em relação aos encaixes dos botões acho que devia haver uma forma de os travar melhor porque às vezes saltam fora quando se faz mais força. Gostava que o Access tivesse uma entrada jack para jogar em comunidade e um micro tal e qual como acontece no DualSense normal. Eram duas coisas que gostava que o Access tivesse.”
Catarina: “O que mais gostei foi a personalização. Dá para acrescentar sempre alguém e acrescentar sempre mais alguma opção. Outro aspecto é o preço. O nicho que pessoas para este comando foi criado é a maior minoria, somos 16% da população mundial. Embora este comando possa ser usado por toda a gente, quem não tiver problemas não vai procurar logo este comando, procura o comando mais disponível. Os produtos para pessoas com necessidades especiais são normalmente mais caros porque é necessário outro tipo de trabalho e de materiais. O objectivo é sempre caminhar para a equidade e não é por uma pessoa ter algum problema que tem necessariamente de pagar mais.”
Pedro: “Para mim é também a personalização, mas sobretudo como estamos a falar de um produto adaptado há a questão do preço. Este é produto funcional, que cumpre o propósito, e é um produto muito bonito. Houve essa preocupação, não é um produto só funcional é elegante.”
De todos os jogos que experimentaste, qual foi o que gostaste mais e porquê?
Catarina: “Gran Turismo 7, mas estou a ficar apaixonada pelo Spider Man.”
Pedro: “Spider Man 2”
Sei que não és jogador habitual, mas a experiência com o Access deixou-te com vontade de experimentar mais jogos?
Catarina: “Sim, mais do que deixar com mais vontade, relembrou-me as lembranças de jogar e deu-me vontade de falar sobre as tecnologias de acessibilidade nos videojogos.”
Pedro: “Não sou jogador, mas tive a PS One e a PS3, mas nunca joguei muito por causa das minhas dificuldades motoras, mas sinto que foi uma porta que se abriu e com este comando não sinto que as minhas dificuldades não são um entrave aos videojogos.”
Preço: €89,99
Contacto: playstation.com