A Sony tem tradição nas consolas portáteis, basta olhar para a PlayStation Portable ou para a PS Vita, que eram consolas completas com um software semelhante ao da PlayStation maior que se ligava à TV, mas usavam suportes próprios para a distribuição do software. Infelizmente, nenhuma destas consolas portáteis chegou perto do sucesso que a PlayStation tem tido ao longo dos anos. Assim, uma pergunta que se pode fazer neste contexto é se faria sentido a Sony gastar tempo e dinheiro a desenvolver e lançar uma nova geração de consolas portáteis, num mundo em que quase toda a gente tem uma rede doméstica sem fios com acesso à Internet? A resposta é: nem por isso.
Assim, a Sony decidiu ir por outro caminho e lançou o PlayStation Portal, um comando com um ecrã que é capaz de receber streams de jogos directamente a partir da PlayStation 5 via Internet ou rede local.
As aparências iludem
A PlayStation Portal é, essencialmente, um comando Dualsense para a PlayStation 5 cujas duas peças onde estão os joysticks analógicos e os botões foram separadas para dar lugar a um ecrã LCD de 8 polegadas com resolução 1080p, sensível ao toque.
Para além dos habituais botões que se encontram num DualSense, o PlayStation Portal também tem um botão para ligar e desligar, dois botões para o volume e um botão para o emparelhar com a rede. Na parte de baixo está uma entrada USB Type-C, para carregar a bateria, e uma entrada jack de 3,5 mm, para ligar uns auscultadores com fios. Infelizmente não há suporte para Bluetooth. Mas pode usar uns auscultadores sem fios da Sony.
Este ‘reprodutor remoto’ (como a Sony lhe chama), não pode executar directamente nenhum software da PlayStation 5, apenas pode receber o stream de um jogo (ou qualquer outra aplicação) a partir de uma PlayStation 5 através de uma rede local ou da Internet.
No universo PlayStation a utilização de streaming para jogar não é uma estreia absoluta, em 2013 a empresa lançou a PlayStation TV, uma box que, na prática, era uma PlayStation Vita sem ecrã, que podia executar directamente algum software para a versão portátil da Vita, mas também podia receber streams a partir de uma PlayStation 4. Tudo era controlado através de comandos DualShock 3, DualShock 4 ou mesmo de uma PS Vita. Infelizmente a PlayStation TV não foi um grande sucesso de vendas e a produção terminou três anos depois do lançamento inicial e não houve nenhuma versão posterior.
Depois, a Sony saltou para o streaming através de rede local e Internet através do lançamento da app Remote Play, que está disponível para dispositivos móveis e para computador. Basta ter uma consola, um comando de PS5, a app, ligação à Internet, um dispositivo móvel compatível e pode jogar onde quer que esteja.
Na prática, a razão para o PlayStation Portal existir é de condensar todo o hardware e software descritos no parágrafo anterior num único dispositivo.
Configuração
A configuração do Portal é simples. Em primeiro lugar tem de se ligar a funcionalidade de reprodução remota na PlayStation 5 de forma que a consola seja vista pelo Portal. Outra funcionalidade que convém estar ligada é que a acorda a consola através da rede para que se ligue automaticamente cada vez que for detectado um acesso por parte do Portal.
Depois, liga-se o Portal, inserem-se os dados de acesso à rede sem fios, os dados de login da conta PlayStation em que a PlayStation 5 estiver registada. Passado um momento aparece o nome da consola registada na conta no ecrã do Portal. Toca-se no nome e a ligação é estabelecida.
Se tiver o televisor ligado verá que o Portal passa a funcionar como se fosse um comando de PlayStation, tudo o que fizer no Portal aparece também no ecrã da TV.
Qualidade e utilização
A construção do PlayStation Portal é excelente. Os materiais são de muito boa qualidade e têm um toque agradável, semelhante ao do comando da PlayStation 5.
Há um aspecto que não posso deixar de salientar: devido ao facto de as semelhanças entre um DualSense e o Portal serem evidentes, quando se pega no Portal há sempre um momento de surpresa, porque o peso é completamente diferente e a distância entre as duas metades do comando parece enorme. Mas os botões estão todos no sítio certo, menos o ‘PS’ que, por causa do ecrã, passou do centro do comando para junto da metade esquerda.
Uma coisa que desapareceu foi o trackpad que está presente no centro dos comandos DualSense. As tarefas desempenhadas por este componente foram passadas para o ecrã do Portal. Mas, francamente, ainda não consegui usá-las como faço no comando DualSense. Realmente aparecem dois rectângulos que devem servir para emular o trackpad, mas ainda não consegui descortinar como é que se usam. O force feedback dos gatilhos funciona exactamente da mesma forma que no DualSense.
Embora seja um ecrã 1080, a qualidade da imagem é muito boa em todos os tipos de utilização.
Falemos do potencial elefante na sala: o lag
O lag, delay, ou atraso é o tempo que demora entre o utilizador premir um botão no comando ou fazer um movimento num joystick e essa acção ser reflectida no ecrã. Quando se usa um comando com fios (ou um rato ou teclado USB) o lag é praticamente imperceptível. Quando se usam comandos sem fios pode haver algum lag, mas, nunca muito pronunciado.
Quando se usa um dispositivo como o Portal, ou um serviço de streaming de jogos através da Internet, pode tornar-se um problema que pode arruinar a experiência em alguns tipos de jogos, principalmente nos que necessitam de mais velocidade, como os FPS. Isto tem a ver com a velocidade e disponibilidade da rede local ou das condições de acesso à Internet. É neste ponto que grande parte do desenvolvimento deste tipo de dispositivos e serviços se centra e com soluções curiosas. Como a que foi usada pela Google no malogrado Stadia, que usava um sistema de inteligência artificial para tentar prever o que o utilizador faria e assim minimizar o lag que pudesse existir.
A Sony diz que é necessária uma largura de banda mínima de 5 Mbps para que o Portal funcione como deve ser. Para ver como funcionava, testei o Portal numa rede local, com um smartphone 5G a servir de hotspot e na rede wifi da redacção (Vodafone 1 GBps/200 Mbps). A PlayStation 5 esteve sempre no mesmo sítio: em minha casa, ligada através de um cabo ethernet ao router do Meo. Neste local, a velocidade do acesso à Internet é de 1 GBps de download e 200 Mbps de upload. Tanto em casa como na redacção, a rede sem fios é Wi-fi 6.
Em cada um dos tipos de ligação testei o Portal com vários jogos, como Ratchet and Clank: A Rift Apart, Gran Turismo, Returnal, Call of Duty e Cyberpunk 2077.
No caso da utilização através da rede local não notei nenhum lag digno de nota, os gráficos são fluídos e o som claro sem interferências. No caso da utilização com a rede da redacção, também não se notou lag, mas notei algumas interferências no som. Com o hotspot também não notei lag, apenas demorou mais tempo a ligar-se à consola.
Muitas vezes, quando a velocidade de acesso à Internet não é muito estável, estes serviços e dispositivos baixam a qualidade da imagem para limitarem a quantidade de dados e assim conseguirem mais velocidade. Isso não aconteceu em nenhum dos casos.
Note que estes resultados são completamente empíricos e obviamente dependem de muito factores, como a qualidade e tipo da ligação e se for através de uma ligação móvel a distância a que se está o retransmissor mais próximo e da saturação da rede.
A pergunta dos 219,99 euros
Vale a pena comprar o PlayStation Portal? Se for um fã incondicional que fica com tremores nas mãos e suores frios quando está muito tempo sem ver a PlayStation? Então sim.
Se for jogador ocasional ou não sentir abstinência quando vai de férias e não leva a PlayStation consigo, então talvez seja melhor empregar os 219,99 euros que o Portal custa noutras coisas, como jogos ou outros acessórios.