Seria incapaz de negar a veia empreendedora de Elon Musk. Em pouco mais de uma década, fundou a Zip2, um diretório que fornecia mapas e informação sobre empresas a jornais online; comprou a Compaq por 307 milhões de dólares e criou a x.com que, à data, não era o Twitter, mas sim a empresa de serviços financeiros que estaria na génese do Paypal, adquirido pelo eBay em 2002. Com 1,5 mil milhões no bolso, Musk achou que era altura de se mandar para o espaço e daí à SpaceX e aos foguetões low cost foi um pulinho. Mas terá sido o investimento na Tesla Motors que maior notoriedade lhe conferiu.
Como tantos outros egomaníacos, acabou por chegar o dia em que tudo o que faz parece ultrapassar as competências enquanto empresário. A insana aquisição do Twitter e tudo aquilo que, nos dias e meses imediatamente seguintes, implementou na empresa, assemelhou-se a um festival de boomerangs: num dia, despediu por email, e em massa, os engenheiros que mantinham a plataforma funcional e, no outro, tentou recrutá-los. O Twitter, tempos depois, haveria de ser renomeado ‘X’, tal como o seu primogénito.
São estas mentes disruptivas que forçam a inovação e fazem a humanidade progredir. Mas são também estas mentes que, tendo o poder de uma constelação de satélites, como a Starlink, e a rede social global mais politizada no mundo, podem interferir em matérias e na tomada de decisões que só a líderes eleitos by the people and for the people caberia tomar.
Dois casos recentes assombram-me. Depois da invasão russa da Ucrânia, Musk decidiu intervir no conflito disponibilizando o acesso à rede Starlink para que os ucranianos pudessem repor o acesso à Internet, destruído pelos russos. Já em Setembro deste ano, tomou a decisão estratégica de não autorizar o ataque à frota russa no Mar Negro inviabilizando o acesso a essa mesma rede.
No início do mês, lembrou-se de acusar, no X, uma organização sem fins lucrativos, que trabalha para combater o antissemitismo, de ser responsável pela quebra das receitas da rede social em 60%. Entra nesta guerra de palavras um não menos controverso Benjamin Netanyahu, que lhe solicita que o X não promova o discurso do ódio. Que caminho é este que trilhamos quando as escolhas que se nos apresentam são entre um primeiro (ministro) contestado por quem o elegeu e uma segunda pessoa que, enquanto ‘Rei-Sol tecnológico’ vai tudo, menos nu.