Ao explorar o vasto campo das distribuições Linux, a OpenSUSE não é, de todo, a opção mais popular, se a compararmos com Ubuntu ou Debian, e a quantidade de informação/guias na Internet é reduzida. Isto é uma pena porque, como temos mencionado, não só tem consistência, mas muita qualidade – achamos que só precisa de um pouco mais de dedicação do que os normais “Ubuntus”. É importante reconhecer que vai ser um desafio, mas com dedicação, paciência e uma mente aberta, a jornada para dominar o OpenSUSE será gratificante, se olhar para o que tem de diferente. Além do sistema de ficheiro Btrfs e do Snapper, para snapshots, ambas características diferenciadoras de que falámos na edição anterior no artigo anterior, temos mais quatro para lhe mostrar.
1 – YaST (Yet another Setup Tool)
Actualmente, não existe qualquer distribuição com uma ferramenta igual ao YaST. É um incrível gestor de configuração, que fornece uma ‘interface’ gráfica intuitiva para administrar várias configurações do sistema, como pacotes, rede e ‘hardware’, utilizadores, firewall, servidores e muito mais. Este recurso simplifica e centraliza tarefas administrativas e torna a personalização do sistema mais acessível para utilizadores novos e avançados, economizando tempo e esforço. A ideia de fazer tudo pelo terminal, não se confirma, com esta ferramenta: comparamo-la ao bem conhecido Painel de Controlo, do Windows.
2 – Ferramentas de virtualização
De modo geral, todas as distribuições são compatíveis com virtualização: o VirtualBox é a ferramenta mais simples e utilizada para esse efeito. Mas, no OpenSUSE, o que vem instalado é o Virt-Manager, sendo a ‘interface’ gráfica da biblioteca libvirt, que faz a gestão de máquinas virtuais baseadas em KVM (Kernel-based Virtual Machine), mas também Xen e LXC (Contentores Linux). O KVM é uma tecnologia de virtualização incorporada no kernel Linux que usa recursos de virtualização de ‘hardware’ no processador, para um melhor desempenho e mais próximo do nativo. Por outro lado, o VirtualBox é uma solução de virtualização de propósito geral que utiliza a sua própria camada de virtualização. A experiência com máquinas virtuais, no Virt-Manager, é, sem dúvida, superior ao VirtualBox e a integração no OpenSUSE é uma vantagem.
Apesar disto, a configuração inicial não é das mais simples: pode ter necessidade de usar o virsh (uma ferramenta de linha de comandos, que faz parte do libvert), para resolver alguns problemas com a ligação da rede, que inicialmente precisa de ser activada da seguinte maneira: sudo virsh net-start default. Depois de ultrapassados alguns erros na configuração inicial, que vão depender do computador onde esteja instalado, o desempenho é fantástico.
3 – Open Build Service
É uma plataforma de construção e distribuição de pacotes, desenvolvida pelo projeto OpenSUSE, que permite criar, compilar e distribuir pacotes de ‘software’ personalizados, de forma fácil. Isto é particularmente útil para programadores e administradores de sistemas que desejam manter e actualizar aplicações personalizadas para as suas necessidades específicas, de forma agnóstica à distribuição Linux usada, uma vez que é compatível com Fedora, Debian, Ubuntu e outras.
4 – Janela ‘Bem-vindo’
Não é uma característica única, porque outras distribuições, como a Ubuntu Mate e a Budgie, já a têm. Contudo, são poucas as que usam uma janela de boas-vindas, com informação específica para começar a usar o sistema. Por exemplo, mostra como instalar software proprietário, como drivers da Nvidia e Google Chrome, entre outros; como adicionar repositórios com pacotes de terceiros para codecs, multimédia, rede e jogos; e como contribuir e desenvolver para a OpenSUSE, através do OBS.
Configurações que aconselhamos
Uma configuração que aconselhamos aos mais aventureiros, é a de adicionar os repositórios Packman, com pacotes adicionais provenientes de terceiros e não suportados pela OpenSUSE. Temos a possibilidade de adicionar apenas os recomendados, os ‘Essentials’, mas se optar por todos, há a vantagem de ter mais pacotes; porém, podem ocorrer mais problemas. Se for mais conservador, adicione apenas os pacotes ‘Essentials’. Conforme a versão instalada, Leap ou Tumbleweed, corra o comando seguinte no terminal.
Pacotes Essentials
- sudo zypper ar -cfp 999 https://ftp.fau.de/packman/suse/openSUSE_Tumbleweed/Essentials packman-essentials
- sudo zypper ar -cfp 999’https://ftp.fau.de/packman/suse/openSUSE_Leap_$releasever/Essentials’ packman-essentials
Todos os pacotes
- sudo zypper ar -cfp 999 https://ftp.fau.de/packman/suse/openSUSE_Tumbleweed/ packman
- sudo zypper ar -cfp 999’https://ftp.fau.de/packman/suse/openSUSE_Leap_$releasever/’ packman
Após adicionar os pacotes Packman, use o comando zypper dup, para actualizar os pacotes instalados para os Packman; caso não o faça, a “mistura” com os oficiais causará problemas. Corra o comando seguinte, conforme o repositório que adicionou:
- sudo zypper dup –from packman-essentials –allow-vendor-change
- sudo zypper dup –from packman-essentials –allow-vendor-change
Conclusão
Esta distro tem todas as características essenciais para usar diariamente. Mas, se procura uma distribuição para instalar e ficar pronta a usar, o OpenSUSE não é para si. Tem uma curva de aprendizagem maior que os “Ubuntus” e, a princípio, terá problemas com algum hardware não-reconhecido – alguns programas podem dar alguns erros. Se está habituado a distribuições com base em Ubuntu ou Debian, aqui há menos diversidade de pacotes, apesar de ter alternativas como appimage ou flatpak. Apesar do possível “jogo de cintura” que terá de fazer, as características diferenciadoras do OpenSUSE podem fazer a diferença pela positiva, a longo prazo. Após algum tempo de uso, aquilo que era um problema, deixará de ser, com a vantagem de que sempre vai aprender mais sobre Linux.