Muito se tem falado no último ano sobre o PRR, focado na necessidade de resiliência perante a devastação económica causada pela pandemia. Mas o plano de resiliência sobre o qual estou a escrever é outro: a necessidade de garantir a estabilidade e redundância das ligações à Internet nacional.
O alerta para este risco ficou claro quando, a 6 de Junho, uma falha no LS1 IBX da Equinix deixou todos os ISP nacionais praticamente desligados do resto do mundo. Apesar de existirem outras ligações alternativas entre os ISP nacionais e as redes internacionais, a sua largura de banda, disponibilidade e tolerância à falha mostraram-se claramente insuficientes para as necessidades de comunicação nacionais actuais.
Felizmente, tratou-se de uma falha momentânea, prontamente resolvida, mas foi o suficiente para perceberemos o quão dependentes estão os operadores de Internet portugueses do LS1. A evolução exponencial das necessidades de tráfego internacional, em muito derivada dos serviços de alto débito oferecidos pelos operadores nacionais, foi assegurada pelo incremento da largura de banda das ligações pré-existentes, em detrimento da criação de novos canais alternativos. E a incapacidade natural de diferenciação da tipologia do tráfego nesta rede põe em risco serviços de comunicação e alerta críticos que (erradamente) estão apenas centrados nesta infraestrutura.
Uma ligação agregada de alto débito é, claramente, a solução mais interessante para os operadores de Internet, tanto do ponto de vista económico, como da simplicidade estrutural – contudo, do ponto de vista da resiliência das comunicações, contraria todos os princípios base da Internet. Um único ponto de falha comprovou que as alternativas implementadas não são capazes de fazer face às necessidades mais básicas das ligações nacionais. Percebemos que um problema técnico de mais difícil resolução, ou um ataque intencional a esses pontos críticos da infraestrutura, podem deixar-nos a todos digitalmente isolados do resto do mundo.
Considerando que, cada vez mais, o acesso à informação é feito pela rede das redes, é vital que existam múltiplos elos paralelos nas ligações com larguras de banda equivalentes e redundantes, algo que, pela natureza comercial da exploração dos serviços, nunca será assegurado até existir uma legislação meticulosa que o consiga garantir.