Como viram na crónica passada, é fácil criar conteúdo com a ajuda de Inteligência Artificial (IA). Agora que somos todos aprendizes de feiticeiro, vamos tentar perceber quais são as consequências de ter tanto poder nas mãos. A AI já faz parte da nossa vida e é melhor aprender a lidar com ela.
Fala-se do ChatGPT como se falava do Facebook há quinze anos: com a desconfiança de uns e o entusiasmo de outros. O impacto será maior. Como tudo o que é revolucionário, há vantagens e problemas. A maior vantagem é a automatização de processos. Os motores de busca, em vez de sugerir sites que respondem às nossas perguntas, irão gerar resultados prontos a usar. Poderemos produzir todo o tipo de conteúdo em qualquer formato até ao infinito, usando pessoas reais ou avatares digitais.
Esse é um dos problemas: deepfakes. Há dias, puseram um Joe Rogan artificial a promover um produto. Ou seja, a IA está a especializar-se na banha da cobra. Pior, é ainda banha da cobra: todos os dias surgem ferramentas que dizem usar IA, mas que não cumprem com as expectativas. Até o Google escorregou. E, em alguns casos, são movidas a inteligência natural, muito mal paga.
O conteúdo digital irá valer ainda menos e terá pior qualidade, em geral. Vamos ter de usar etiquetas para identificar conteúdo orgânico, como no supermercado? Será que o público vai ligar a isso? Para muitos, a IA não é uma ferramenta, mas um atalho muito perigoso e sem escrúpulos para fazer dinheiro. E, como ninguém sabe como funciona, há muita coisa que nos vai passar ao lado.
Gary Marcus disse que o problema do ChatGPT não é gerar informação quase correcta, mas sim criar textos muito convincentes, que dizem só o que queremos ouvir. A mudança de paradigma estará no aparecimento de conteúdo complexo para consumo próprio, que passará ao lado do produto feito para as massas. É o nicho de um: vamos passar da self media para a média ultra-individual.
Na parte 3, as questões filosóficas, éticas e sociais.