E pela Internet fora andam a dizer que isso é uma coisa boa. Alguns produtores de conteúdos – que viveram os seus melhores anos no final do século passado – andam a glorificar a música, as séries e os filmes da altura. Posso dizer-vos que estão muito enganados. Os anos 90 não vão voltar. Nem devem.
Primeiro: é natural que os anos 90 sofram algum revivalismo, já que esprememos os anos 80 quase todos. Mas será um sol negro que não deverá durar muito. Esta geração não tem estofo para lidar com tanta agressividade, depressão e gravilha.
Segundo: até parece que os anos 90 foram bons tempos. Não foram. Houve – como em todas as outras décadas – guerras (Guerra do Golfo), fomes, crises. Apenas foram os primeiros anos depois do fim do bloco soviético e sem Guerra Fria, em décadas. E, como hoje, a extrema diarreita (é assim mesmo) ia ganhando força. Não me lembro do mundo ser mais colorido e cheirar a rosas e felicidade.
Os anos 90 são a última década sem Internet generalizada. Mal entramos nos 2000, levamos com o 11 de setembro, a Guerra do Golfo – Parte 2, a assustadora guerra contra o terror que mais pareceu uma doença auto-imune. Entretanto, houve mais crises (as bolhas dotcom e imobiliária) e, quando chegámos aos 2010, andámos com a cabeça tão enfiada nos ecrãs dos telemóveis que perdemos a noção da realidade.
A alienação foi tal, que elegeram um homem de negócios incompetente / estrela de reality show para dirigir o titânico bastião da democracia mundial. Grave ao ponto de um bando de morcegos ficar tão chocado com a situação, que nos passou um vírus que muita gente acha que não existiu.
Os anos 90 deixam saudade porque, na altura, os estúpidos existiam, mas levavam com uma dose de Rage Against the Machine na tromba e iam ao sítio. Os filmes acabavam mal, mas saíamos satisfeitos do cinema porque nos faziam sentir humanos. Os nossos erros não davam vídeos virais.
E esta geração, o que tem para medir o mundo? O Tik Tok, influencers e sagas da Marvel. Voltem, anos 90. Por favor!