A Trash4Goods (T4G) foi fundada por Afonso Ravasco, Tiago Lourinho, João Trindade e Pedro Esteves e surgiu dentro da JUNITEC – Júnior Empresas do Instituto Superior Técnico. Os quatro fundadores, dos quais restam apenas os dois primeiros (actuais CEO e CTO), tinham de desenvolver um projecto na área de inovação e escolheram abordar o tema de as taxas de reciclagem, em Portugal, «serem muito baixas», explica Afonso Ravasco. Após falarem com diversas entidades como a Sociedade Ponto Verde, ValorSul e Câmaras Municipais, identificaram aquele que seria o maior desafio, lembra o CEO: «Chegámos à conclusão de que o grande problema por trás das fracas percentagens era a contaminação, isto é, resíduos eram (e continuam a ser) depositados nos ecopontos errados».
Os jovens empreendedores foram à procura de exemplos e perceberam que «em muitos países europeus, sobretudo os nórdicos, existia um sistema de depósito, que atribuía um determinado valor aos resíduos». A recompensa era monetária, mas Afonso Ravasco revela que quiseram «ser um pouco mais criativos e tentar construir uma plataforma que incentivasse os utilizadores a reciclar através de uma forma didáctica e com uma recompensa mais pessoal».
Valorizar e recompensar
Segundo o CEO e fundador, o principal objectivo foi trazer um maior «awareness para a valorização dos resíduos» e, assim, fazer com que as pessoas «deixem de olhar para os mesmos como lixo», mas sim como «matéria-prima que lhes pode trazer benefícios». A solução da T4G é composta por duas componentes: a aplicação Trash4Goods, responsável por «toda a gamificação», que é a «interface com o utilizador», e pontos de recolha de reciclagem. Afonso Ravasco explica como tudo funciona: «Depois de criar a conta na app, ficamos com um código QR pessoal. Este código permite emparelhar com os pontos de recolha da T4G e, ao colocar os resíduos, o utilizador recebe pontos».
Há diversas funcionalidades «inspiradas do mundo dos jogos», como tabelas classificativas, desafios e conquistas que os utilizadores podem ir desbloqueando para ganhar mais pontos. Existe ainda o que Afonso Ravasco designa por um «modelo de competição sustentável», em que os utilizadores competem entre si para serem os que mais reciclam num determinado espaço de tempo, por exemplo, num mês. Também há estatísticas para que cada pessoa possa conhecer melhor «a sua jornada sustentável desde que aderiu à Trash4Goods», destaca.
Presente e futuro
Neste momento, a solução pode lidar com plásticos, latas, e-waste e está em funcionamento no Instituto Superior Técnico (embalagens e lata) e em quatro lojas Worten na região de Lisboa (Cascais Shopping, Oeiras Parque, Centro Comercial de Telheiras e no Rio Sul Shopping) com foco no e-waste. Este projecto-piloto com a empresa da Sonae, que termina a 1 Outubro, vai ter como vencedores «os utilizadores que entregarem mais resíduos eléctricos e electrónicos»; os prémios são «atractivos – iPhone 13, Airpods e cartões Worten até 150 euros», diz Afonso Ravasco. Este é um «teste para um futuro lançamento da plataforma no retalho, com ênfase no e-waste». No entanto, a solução «é facilmente expansível para outros tipos de resíduos».
Por outro lado, a startup está a «tentar adaptar a solução ao sistema de depósito para embalagens de bebidas que irá ser implementado durante este ou próximo ano» em Portugal e, assim, estar presente em diversos pontos do País.
Os planos passam também por chegar a mais locais, em breve, como «centros de consumo, eventos, empresas e municípios que tenham interesse em ter um sistema de incentivo à entrega de resíduos» e fazer «parcerias com produtores de reverse vending machines». As perspectivas são boas, já que o mercado da sustentabilidade e a economia circular estão a crescer, o que representa uma «grande oportunidade para a T4G». Além disso, a startup vai aproveitar para «começar a procurar investimento» e dar início «à expansão da plataforma não só por Portugal, mas pelo resto da Europa e do mundo». A Trash4Goods tem três colaboradores, mas quer aumentar a equipa. Para isso está à procura de profissionais nas áreas de «engenharia informática, data science, desenvolvimento mobile, web design, marketing e operações», segundo Afonso Ravasco.