Em termos de tecnologia, não existe tema mais fascinante e filosófico que a inteligência artificial. Se, por si só, o conceito de inteligência é difícil de definir ou reconhecer, quando se trata de inteligência computacional, mais complexo ainda se torna. Por outro lado, por força do marketing, foi dado esse atributo a coisas que claramente não o são. Falamos de casas, carros e dispositivos inteligentes apenas por terem uma pequena capacidade de automação. Mas todos sabemos que não o são, na sua verdadeira essência.
Um dos mais caricatos testes criados nesta área foi o de Turing: basicamente, consiste em colocar uma pessoa a conversar com uma entidade oculta, que pode ser outro humano ou uma máquina. Se a pessoa não conseguir perceber a diferença, então o teste é conclusivo. Mas, na realidade, não é um teste às capacidades da inteligência computacional de uma máquina, mas sim à perspicácia do humano que está a fazer o teste. O facto de o humano interagir com uma máquina sem se aperceber de que não é humana, não a torna inteligente, da mesma forma que um desenho hiper realista não se torna uma fotografia.
Mas, é exactamente este hiper realismo das máquinas que é relevante para o desenvolvimento humano. A capacidade de máquinas interagirem de uma forma humanizada com os seus interlocutores, conseguindo uma interacção e programação ao mais alto nível, vai revolucionar o mercado dos assistentes virtuais e libertar as pessoas de trabalhos repetitivos, e psicologicamente desgastantes, de interpretação humana para introdução de dados em máquinas. Dos centros de atendimento telefónico aos postos de venda física, poderemos passar a ter máquinas que respondem como humanos em vez de humanos que respondem como máquinas.
Este é o sonho colectivo de todos os que dedicam as suas vidas à investigação da inteligência artificial, mas quanto mais estão envolvidos nesta temática, mais fácil é para um investigador falhar ele próprio no “seu teste de Turing”. Digo isto, porque a enorme capacidade de reconhecimento de padrões e as massivas bases de dados estatísticos ao dispor dos sistemas de inteligência artificial de ponta são inconscientemente moldadas e adaptadas aos desafios colocados por quem as cria, testa, desenvolve e aperfeiçoa. A unicidade da inteligência humana, ou aquilo a que chamamos ‘autoconsciência’, são ainda meras ilusões criadas por sistemas computacionais que repetem de forma cada vez mais perfeita o colectivo dos pensamentos humanos.