Todas as semanas temos uma notícia sobre a revelação “acidental” de um novo dispositivo. Será uma estratégia dos departamentos de marketing ou incompetência? Se as empresas não conseguem proteger os seus segredos, serão capazes de proteger os meus dados? Saibam tudo, antes que este texto desapareça.
O marketing é a arte da manipulação consentida. A Web e as redes sociais trouxeram uma escala e velocidade absurdas à comunicação promocional, com uma capacidade de detalhe impensável até há vinte anos: a nossa identidade digital é definida pelas pesquisas que fazemos, pelas publicações que lemos e comentamos, pelas nossas interacções em plataformas e redes sociais, localização e proximidade física com outros dispositivos.
Esta informação é a base para as tácticas de comunicação: a criação de escassez do produto que vai mudar a nossa vida, aos montes em armazéns prontos a ser expedidos contra pagamento digital. Ou o curso que é a solução para todos os problemas profissionais, sentimentais e existenciais. Se mais algum marketeiro do YouTube apelar às minhas supostas inseguranças com uma “oportunidade única” que termina daqui a meia dúzia de horas, depois de contar a sua extraordinária (inserir emoji de sarcasmo) experiência pessoal, vomito. Devem estar carecas de ver isto, não?
Façam o seguinte exercício: pesquisem por “(marca de telemóveis) + accidental leak”, e vejam as (muitas) datas dos resultados. As marcas que parecem não saber guardar um segredo são as mesmas que guardam toda a nossa vida em servidores no Além. Mas é uma estratégia mais eficaz do que enviar um press release, pois a informação que devia estar escondida é mais apetecida. É o marketing, estúpido.
O problema é quando não é um produto, mas uma ideia mal fundamentada, uma teoria estapafúrdia ou mentiras com consequências de vida ou de morte. Temos alinhado em demasia neste faz-de-conta. É preciso promover também algum sentido crítico.
A economia digital fez presas de todos nós. E, claramente, faz muitos de parvo.