A Samsung anunciou novos desenvolvimentos na tecnologia MRAM, que vão permitir o processamento directo na memória, sem a necessidade de ter um processador e uma memória como componentes separados, num qualquer dispositivo. Historicamente, a memória MRAM não tem sido considerada uma hipótese para este tipo de aplicações por ter uma durabilidade muito baixa, quando comparada com outras tecnologias de memória não-permanente, como a DRAM, RRAM e PRAM.
Mas o que é a memória MRAM? Não é uma tecnologia nova, a primeira prova de conceito surgiu em 1955 e os primeiros dispositivos em 1984. A Magneto-resistive Random Access Memory (MRAM), já existe há muito tempo e a Samsung já a fabrica em grandes quantidades há quase 3 anos. Sem entrar em detalhes muito técnicos, a MRAM oferece o desempenho da DRAM e a não-volatilidade da memória flash. Também usa menos energia, que as tecnologias de memória RAM tradicionais. Se acha que já ouviu falar disto recentemente, não está a ter um déjà vu. Deve ter lido este artigo, que publicámos recentemente.
O grande inconveniente da memória MRAM é que não é muito densa, o que quer dizer que, se quiser ter muita capacidade, terá de ocupar muito mais espaço que o das memórias tradicionais. Isto quer dizer, que este tipo de memória não é muito interessante para dispositivos para o mercado de consumo, que necessitam de gigabytes de memória para poderem funcionar. Em vez de apostar nesse mercado, a Samsung tem explorado a utilização destas memórias nos mercados de IoT e de inteligência artificial. A razão para o anúncio desta descoberta, prende-se exactamente com este último mercado, porque o processamento directo na memória é essencialmente a forma como o cérebro humano funciona, e a emulação dessa função através da utilização de computadores “neuromórficos”, como o Loihi da Intel, conduziu a grandes avanços na pesquisa em inteligência artificial.
Os computadores “neuromórficos”, não necessitam de grandes quantidades de memória devido à forma como funcionam. Em vez disso, cada sinapse na rede tem, no máximo, apenas cerca de duas centenas de KB de memória RAM. Estas sinapses, também não recebem energia quando estão inactivas. Isto não é um problema para a memória não volátil, como a MRAM, o que a tornaria ideal para este tipo de computação, se não fosse o problema do desgaste, referido anteriormente. Segundo a comunicação da Samsung, esse problema foi ultrapassado.
Em vez de tentar redesenhar o hardware para melhorar a durabilidade da MRAM, a equipa de desenvolvimento da Samsung, repensou a forma típica de fazer processamento directo na memória. Desta forma, conseguiu demonstrar uma forma eficiente e efectiva de de fazer processamento directo na memória usando MRAM. A empresa diz que o conseguiu, através da execução de uma inteligência artificial de classificação de imagem em MRAM, tendo atingido uma taxa de precisão de 98% no reconhecimento de escrita manual e de 93% em reconhecimento facial.
Os valores em si não são relevantes, o que é que relevante é que tenham conseguido fazê-lo. A Samsung não mencionou novos produtos neste anúncio, mas diz que espera que as suas MRAM sejam incluídas na próxima geração de chips de inteligência artificial e aplicadas em sistemas de computação “neuromórfica”.