No momento em que o aquecimento global demonstra claramente o seu brutal impacto em milhões de pessoas e animais (afectados por cheias, fogos e vagas de calor) os compromissos atingidos na conferência sobre as mudanças climáticas das Nações Unidas ficaram marcados pela frieza de umas poucas intenções.
Apesar de anunciarem que mantêm viva a ideia de garantir o controlo do aumento da temperatura global num máximo 1,5 graus até 2100, na prática, os compromissos assumidos não chegam para assegurar uma subida inferior a 3 graus. Estas convenções de “boas” intenções não têm efeitos práticos, pois os poucos compromissos assinados há doze anos em Copenhaga ainda não têm força de lei nos países que os assinaram. E a conta do apoio à sustentabilidade dos países mais desfavorecidos, assinada há seis anos em Paris, ainda está em grande parte por pagar.
Esta é a maior injustiça deste processo, onde países como Tuvalu, Antígua e Barbuda são os que enfrentam os piores impactos das alterações climáticas, apesar de terem uma baixa industrialização e pegada carbónica. Os países que, nas últimas décadas, enriqueceram às custas da degradação ambiental dentro e fora dos seus territórios, são também aqueles que menos se disponibilizam a apoiar os países em desenvolvimento, para que façam uma passagem directa no uso de tecnologias energéticas sustentáveis.
Definir 2070 como meta de neutralidade carbónica é o equivalente a dormir uma sesta para recuperar forças e, assim, conseguir reparar os buracos no casco de um barco em que todos estamos. Deixar de pedir emprestado ao planeta não é o mesmo que pagar o que devemos.
Continuamos a acreditar que o planeta é de todos, mas não nos limitamos a consumir a parte que nos pertence e muito menos equacionamos repor o que lhe tiramos. Este pensamento está de tal forma enraizado na cultura dos países industrializados, que não nos apercebemos de que já passámos o ponto de ruptura e só nos resta tentar minimizar as consequências da nossa ganância e ingenuidade.