A impressão 3D pode ter “subido de nível” com uma nova investigação feita na Universidade de Coimbra (UC): uma equipa de cientistas criou materiais à base de celulose produzida por bactérias para produzir peças e objectos em 4D.
A ideia terá nascido na tese de mestrado de Francisca Fonseca, apresentada em 2017 na mesma Universidade. Contudo, em 2011, Fábio Gomes (Universidade de Aveiro) já tinha defendido uma ideia semelhante: a biossíntese de celulose bacteriana a partir resíduos industriais.
Esta evolução para as quatro dimensões faz com que seja possível produzir objectos «tridimensionais inteligentes». Segundo a UC, ao introduzir a dimensão ‘tempo’ nesta equação, e ao aplicar «estímulos externos, como a temperatura, luz ou pH, entre outros»,é possível fazer com que «mudem de forma».
Sustentável, ecológico, biodegradável e biocompostável
Para chegar a este resultado, o segredo está na “massa” – neste caso, o cerne do desenvolvimento feito na Cidade dos Estudantes por uma equipa liderada por Ana Paula Piedade, investigadora e docente da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC): celulose produzida por bactérias.
«Sustentável e ecológico», este material compósito criado por seres vivos «completamente biodegradável e biocompostável» tem mais uma vantagem – o facto de ser celulose pura e não extraída de árvores, faz com que não tenha de passar por «vários tratamentos de purificação».
Risco para a saúde? As bactérias só querem ajudar
E se está a pensar que as bactérias usadas nesta produção podem representar um risco para a saúde, Ana Paula Piedade assegura que esse é um perigo inexistente: «Não são patogénicas, pelo contrário. São fortes aliadas para tornar possível a impressão 4D. Não podemos esquecer que as bactérias resultam de milhões de anos de evolução, elas aprendem e adaptam-se».
Neste momento, a equipa de investigadores já conseguiu imprimir vários objectos, para diferentes usos: «Dispositivos capazes de mudar de forma consoante a solicitação mecânica que têm, roupas inteligentes para atletas de alta competição, dispositivos biomédicos, enfim, há um mundo de possibilidades», garante Ana Paula Piedade. O próximo passo será a criação de «dispositivos que possam tirar vantagem do efeito 4D».
Desperdício é quase zero
Outra das vantagens desta celulose está no facto de ser de «baixo custo», uma vez que as bactérias podem ser alimentadas com resíduos alimentares que seriam desperdiçados, de outra forma.
Aliás o conceito de ‘desperdício’ é uma das chaves do projecto: «97% do material usado fica na própria peça que é impressa, ou seja, o resíduo produzido é mínimo e, mesmo assim, esse resíduo pode ser usado para a produção de mais filamentos».
Este projecto da UC tem um financiamento de 250 mil euros dado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia e por fundos europeus do COMPETE 2020; além da UC, participa ainda nesta investigação o Instituto Politécnico da Leiria.