Tive de ir ao arquivo para escrever esta crónica: em Junho de 2012 dizia, nesta coluna, que queria uns Google Glasses para viver no meu próprio RPG (o que é uma ideia solipsista, para não dizer parva, mas era um jovem na altura). Em 2013, já estava arrependido depois de ver o Robert Scoble a usá-los no banho.
Peço desculpa pelo regresso da memória desse incidente ou por vos tê-lo apresentado pela primeira vez, mas era a Web 2.0 em toda a sua glória. Menos de uma década depois, apesar de parecer que passaram umas cinco, os óculos que nos afligem a privacidade estão de volta, desta vez pela mão da corporação que mais gosta de fazer dinheiro à conta dela.
O Facebook e a Ray Ban juntaram-se e criaram uns óculos com câmara para os utilizadores não terem a trabalheira de pegar nos seus smartphones pesados para tirar uma foto. Antes dos voyeurs da praça começarem já a levantar os naperons à procura de trocos para comprar um par, fiquem sabendo que os óculos têm uma luzinha vermelha que mostra às outras pessoas que estão a ser fotografadas. Sim, sinto que a minha privacidade está muito mais protegida agora…
Os óculos do Facebook só têm estilo e uma câmara, além de todas as implicações sobre o direito à imagem que trazem. Fazem dos utilizadores apenas um bando de CCTV com pernas e muita pinta. O que, basicamente, é a descrição do modelo de negócio do Facebook.
Depois, vem o líder da rede social que mais deprime os adolescentes, Adam Mosseri, dizer que as redes sociais são como os carros: geram valor na sociedade mas provocam mortes, o que é algo que temos de aceitar. Nem sei bem por onde começar.
Ao menos, poderiam ter feito como a Xiaomi, que fez uns óculos úteis, com um display numa das lentes para apresentar informação, o que torna o GPS muito mais divertido.
Duas marcas a apresentar produtos semelhantes no espaço de um mês não significa que há uma tendência. Mas, se aparecer uma terceira, acreditem: as máscaras que sobraram da pandemia ainda irão ter muita utilidade no futuro.