O avanço tecnológico tem tido, desde sempre, o condão de revelar mais sobre as fragilidades humanas que sobre o potencial da espécie. A Revolução Digital trouxe mudanças em todos os campos da nossa vida mas, especialmente, mudou como nos vemos e relacionamos. Uma lupa gigante sobre a humanidade.
Não vi o filme, nem sei se quero ver. Social Dilemma tem todos os ingredientes para me deixar deprimido. O filme mostra como os detentores da tecnologia mais mágica desde o fogo ou a eletricidade a usam para fazer de nós meros fantoches consumistas. Pequenos cães de Pavlov a salivar a cada like ou comentário, condicionados a ver mais um vídeo, mais uma foto, mais um clique.
Nunca acreditei que a Internet fosse salvar o mundo ou aproximar mais as pessoas. Numa sala de chat, um cidadão norte-americano, ao saber que eu era português, disse que eu e todos os porto-riquenhos éramos uns porcos e uns ladrões. Esclareci o equívoco e disse que Portugal era um dos países mais antigos da Europa. Os insultos continuaram. Foi em 2001, mas poderia ter sido ontem.
O meu problema não é com a tecnologia, claro. Continua a ser a mais incrível de sempre e, apesar de tudo, nem todas as gerações se podem gabar de assistir desde o início a uma alteração tão grande na ordem das coisas. Eu vi o fim do mundo analógico e o nascimento da era digital da primeira fila. Melhor só se pudesse viajar pelo Espaço na Millenium Falcon ou na Bebop.
O meu problema é com a espécie humana. Há quem controla, há quem é controlado e goste de o ser. Há quem queira prevalecer sobre os outros mesmo que isso seja danoso para toda a comunidade. Não foram as big techs que acharam que o mundo deveria ser assim. À boa maneira capitalista apenas seguiram a procura. E, quando a satisfizeram, inventaram necessidades novas que ninguém sabia ter. E, assim, vivemos uma mini-distopia onde a droga maior é a dopamina.
Somos formiguinhas pouco cooperantes ao sol sob esta lente que tudo vê, tudo sabe. Só nos queima se nós deixarmos.