A bateria do seu smartphone dura o dia todo sem ter de a carregar? E daqui a um ano? A ansiedade relacionada com a vida da bateria de um smartphone pode ser uma coisa real e em conjunto com a qualidade da câmara e o ecrã, a vida da bateria é um dos factores a que as pessoas dão mais importância quando estão no processo de escolha de um novo equipamento.
A importancia da vida da bateria entre cargas no nosso dia a dia é a razão pela qual temos carregadores rápidos, pelo menos no mercado dos smartphones topo de gama. Encontra os carregadores mais poderosos em smartphones como o Galaxy S20 da Samsung, nas séries Mate e P da Huawei ou no iPhone 11, só para falar dos mais conhecidos. Se a bateria não aguentar até ao fim do dia, uma carga rápida é o melhor substituto. Em todos os casos, uma carga de 10 minutos pode significar a diferença entre entrar num modo de poupança de energia (que desliga quase todas as funcionalidades avançadas do equipamento) e chegar a casa com o telefone sem bateria.
Mas com a velocidade surgem as dúvidas: usar um carregador rápido danifica a bateria a curto prazo? A capacidade de armazenamento de energia pode degradar-se com o tempo? E o que causa o desgaste precoce da bateria do seu smartphone?
Vamos responder a estas e outras perguntas.
A bateria do seu smartphone não vai mudar tão cedo
Actualmente, a esmagadora maioria dos dispositivos electrónicos móveis (por exemplo telefones, carros ou drones) usam baterias recarregáveis de iões de lítio. É difícil criar baterias que durem muito tempo, porque a sua tecnologia fundamental não muda há décadas. Em vez disso, grande parte dos progressos feitos no campo da duração da energia entre cargas, foram obtidos através da criação de funcionalidades de poupança de energia, que depois são incluídas no hardware. Do lado do software, foram criadas novas técnicas que permitem uma descarga mais eficiente das baterias, o que lhes permite viver mais tempo sem serem ligadas à corrente.
Infelizmente para os utilizadores de smartphones, os esforços de pesquisa sobre o aumento da vida útil das baterias em geral estão focados principalmente em aplicações que se espera que durem muito tempo, como automóveis eléctricos, satélites ou sistemas industriais.
Outra dificuldade está na capacidade das baterias dos smartphones. Se a compararmos com a capacidade de uma bateria de um automóvel eléctrico, a de um telefone é minúscula. Olhando para uma e para outra, a bateria de um Tesla Model 3 tem cerca de 5000 vezes mais capacidade que a de um iPhone 11 Pro Max.
A conversão de unidades é um pouco trabalhosa, porque as baterias dos smartphones medem-se em miliamperes/hora e as dos veículos eléctros em watt/hora. Mas é possível estabelecer equivalências. Por exemplo, um smartphone com uma bateria de 2800 mAh equivale a 10,6 Wh ou uma bateria de 4000 mAh corresponde a cerca de 14 Wh. Já a bateria de um Tesla Model 3 Long Range actual é de 75000 Wh.
Este ponto é importante porque quanto mais capacidade tiver uma bateria, mais possibilidades existem de protelar a altura em que se degrada significativamente.
Por exemplo, quando carrega uma bateria, a voltagem aumenta, o que aumenta o esforço nos componentes, principalmente quando a bateria já está a 80% da capacidade máxima. Para evitar estes problemas, os fabricantes de carros eléctricos aconselham a carregar normalmente até aos 80% da capacidade máxima. Devido a terem baterias muito mais poderosas, os automóveis eléctricos conseguem precorrer grandes distâncias com a bateria carregada parcialmente. Fazer isto pode duplicar o tempo útil de vida da bateria.
Baterias dos smartphones com mais capacidade podem fazer com que o equipamento funcione o dia todo, sem necessitar de serem carregadas, mas normalmente só se começarem nos 100% de carga, o que desgasta os componentes da bateria, como já vimos.
A menos que apareça uma grande descoberta na tecnologia de baterias, a curto e médio prazo, a única solução é tornar os dispositivos móveis mais eficientes energeticamente.
O carregamento rápido não danifica a bateria
Um carregador convecional tem um output entre os 5 e os 10 watts. Um carregador rápido consegue aumentar este valor até 8 vezes. Por exemplo, o carregador do iPhone 11 Pro Max é de 18 watts, já o dos últimos Huawei chega aos 40 watts.
A menos que haja um qualquer problema com a bateria ou com a electrónica do carregador, a bateria do seu smartphone não sofrerá danos a longo prazo com a utilização de um carregador rápido.
A razão é a utilização de um sistema de carregamento em duas fases. Na primeira fase, quando a bateria está esgotada, é aplicado o máximo possível de voltagem. Isto faz com que a bateria chegue aos 50 ou 70% de capacidade nos primeiros minutos de carregamento. Isto é possível porque, nesta fase, a bateria pode absorver uma grande quantidade de energia sem que haja muito impacto na sua vida útil longo prazo.
Quando a bateria chega a um determinado nível de carga, o sistema de monitorização da bateria desencadeia a segunda fase de carregamento em que a quantidade de energia aplicada à bateria é substancialmente reduzida, para não a danificar no longo prazo por excesso de voltagem no carregamento. É por isto que chegar aos 100% de carga a partir dos 70 ou 80% demora sempre mais.
Há quem compare a utilização de sistemas de carregamento rápido nas baterias dos dispositivos móveis a esponjas. Se uma esponja estiver seca, quando lhe deita água em cima é absorvida rapidamente. Quando estiver quase saturada, a absorção é muito mais lenta.
A conclusão é, se estiver tudo a funcionar como é suposto , danificar uma bateria por usar carga rápida é muito raro.
O famoso caso dos problemas com explosões da bateria do Samsung Galaxy Note 7 há uns anos tiveram a ver com problemas de concepção da bateria e não com o sistema de gestão da bateria.
Não é possível carregar demais a bateria de um smartphone
A sobrecarga da bateria do telemóvel era uma coisa que causava ansiedade aos utilizadores no passado. O medo era que se se deixasse o smartphone sempre ligado seria possível carregar a bateria para além da sua capacidade máxima, tornando-a instável o que, por sua vez, reduziria a sua vida útil e mesmo aquecer demasiado o que podia causar um incêndio ou explosão.
O sistema de gestão da carga da bateria dos dispositivos desliga a corrente assim que a carga chega a 100%, impedindo assim a sobrecarga. No entanto, é de lembrar que, como já vimos, carregar sempre a bateria até aos 100% pode causar problemas no longo prazo.
Um exemplo de um sistema inteligente de gestão da carga de uma bateria é a funcionalidade chamada ‘Carregamento optimizado’ do iOS. Este sistema entra em funcionamento quando o dispositivo está ligado à corrente durante muito tempo, por exemplo enquanto dorme, e mantém a carga sempre a 80%. Através de uma análise dos padrões de utilização, sabe quando o desliga do carregador todos os dias e minutos antes eleva o carregamento a 100% para, por um lado, não esforçar a bateria e por outro, garantir a carga máxima quando começa a usar o equipamento.
Não deve deixar a bateria descarregar até ao fim
De certeza que já quis deixar a bateria descarregar completamente para recalibrar o medidor de carga e obter informação mais correcta sobre o estado da bateria. Infelizmente, este é um exercício inútil com o software e hardware actuais.
Até pode ser prejudicial para a bateria, porque quando se descarregam completamente podem criar-se reacções quimicas que encurtam a vida útil da bateria. Para evitar uma descarga completa, o sistema de gestão de baterias inclui funcionalidades de segurança que desligam o equipamento automaticamente antes de a bateria chegar a 0.
Se quiser manter a sua bateria saudável, ligue o smartphone ao carregador quando o nível chegar a cerca de 30%, longe dos níveis em que os componentes entram em esforço.
As altas temperaturas podem danificar a bateria
O calor é o verdadeiro inimigo da sua bateria, porque as temperaturas mais altas reduzem realmente o seu tempo de vida útil.
Deve manter o seu dispositivo longe da luz directa do sol, por exemplo em janelas ou no tablier do carro, para evitar o sobreaqeucimento, que vai limitar a eficiência da bateria ao longo do tempo. Em casos extremos, se a bateria sobreaquecer pode mesmo explodir.
Isto quer dizer que tem de manter o seu telefone no frigorífico? Claro que não, mas deve mantê-lo longe de altas temperaturas. Se estiver ao sol durante muito tempo, envolva o telefone numa toalha ou ponha uma camisola por cima dele. A ideia é impedir que a temperatura interna do dispositivo suba.
Usar carregadores e cabos de outras marcas não fazem mal à bateria
A menos que esteja a usar cabos e carregadores falsificados, misturar cabos e carregadores de marcas diferentes não vai danificar a bateria. Contudo, a mistura pode ter impacto negativo na velocidade de carregamento.
Alguns equipamentos Huawei e OnePlus usam um design em que parte dos circuitos responsáveis pela carga rápida estão integrados no carregador, neste caso para conseguir carregar rapidamente smartphones destas marcas terá de usar os carregadores respectivos.
Outros fabricantes, como a Samsung e Apple, seguem os padrões da indústria no que respeita ao carregamento rápido, o que o deixa carregar mais depressa em qualquer carregador que o permita.
A melhor prática é usar os cabos e carregadores que acompanham o dispositivo para conseguir a melhor velocidade de carregamento possível.
O que posso fazer mais para conservar a energia da bateria?
Para conseguir obter um pouco mais duração da sua bateria, pode usar os truques habituais de conservação de energia como reduzir o brilho do ecrã, ligar o modo escuro do sistema (se o ecrã for OLED), desligar a ligação Wi-Fi e Bluetooth quando não as está a usar, restringir a utilização de dados em segundo plano através das definições do sistema operativo e controlar as aplicações que usem os serviços de localização.
Mas, na verdade, faça o que fizer para poupar, a carga da bateria do seu smartphone tem um limite de vida. Mas se a tratar bem, a bateria vai poder ser carregada e descarregada sem problemas durante muito tempo.