Hipócrita como eu, que na realidade me revejo em grande parte dos ideais norte-americanos e do seu estilo de vida. Mas depois temos Trump e quem lá o colocou, temos os consequentes #blacklivesmatter e #metoo.
Deparei-me há dias com um conceito de app genial. Apresentou-se em anúncios no Facebook como uma app sobre a vida de Jesus que terá sido a mais bem-sucedida operação de crowd funding (mais de dez milhões de dólares) para uma série de TV. Uma app ou uma série? Na realidade são as duas e fundem-se muito bem. O serviço-base, no entanto- nem sequer é esse. Fundado em Provo, no Utah, o serviço VidAngel fornece aos seus utilizadores a capacidade de aplicar sobre conteúdos audiovisuais (filmes e series de TV) uma panóplia de até 42 filtros que vão da obscenidade e violência gratuita à blasfémia (Jesus), profanidade (ass), nudez ou a palavras proferidas por crianças como ‘butt’ ou ‘fart’. E classifico-a como ‘genial’ porque se alimenta desse falso puritanismo que habita o âmago norte-americano do midwest e do redneck que alia um religioso deturpado pela ignorância do umbiguismo.
Este é um serviço que se alimenta da necessidade de alguns que as palavras ‘rabiosque’ e ‘pum’ sejam filtradas de conteúdos que, pelo próprio serviço, são feridos de legalidade ao fazerem master copies dos originais desde a sua fundação. Se, em 2020, têm a possibilidade de utilizar o Chromecast, o Roku, a Fire TV, ou até na Apple TV, é porque houve, certamente, uma bênção dada entre o Vaticano e o midwest gospel.
Estas pancadas à parte, a app fere-se de genialidade. Promove o conteúdo – a série The Chosen – de forma inovadora, apelando, não só à partilha nas redes sociais, mas de forma mais magnânima, na assinatura que permite que «dê pelo menos dez episódios para outras pessoas assistirem ao redor do mundo».
Permite ainda continuar a evangelização pelas secções ‘Deep Dive’ – com mesas redondas de especialistas – ou pelos conteúdos de bónus que vão de ‘falido a escolhido’ e com o elenco da série que tem como cabeça de cartaz no papel de Jesus o renomeado Jonathan Roumie. Fizesse-se algo deste género com This is Us em 2017 – são do mesmo ano – e seria esta última da longevidade de uma ‘Anatomia de Grey’.