Fomos educados para este cenário a vida toda, mas parece que não aprendemos. Tantos filmes catástrofe, jogos passados em cenários apocalípticos e séries de zombies já nos deveriam ter preparado para saber viver civilizadamente sob um estado de emergência.
Por causa do ‘vocês-sabem-o-quê,’ o nosso quotidiano deu uma grande volta. Para muitos – como eu – foi a consciência de que já vivíamos em quarentena: fechados em casa a trabalhar e a evitar pessoas a maior parte do tempo. E parem de instagramar o vosso home office, é como se tivessem descoberto para que serve um bidé. Não é nada de mais e também temos um.
Imaginem se isto tivesse acontecido nos anos oitenta, com dois canais de TV. As ruas seriam tomadas por motins. Se não acreditam, é porque não viveram nessa década. Agora há esta ferramenta incrível que permite estarmos juntos, mesmo isolados. E mais de cem canais.
Este deveria ser um momento de reflexão sobre as nossas prioridades individuais e sociais. É claro que qualquer iluminação filosófica irá pela pia abaixo assim que for levantado o estado de sítio, mas deixem-me pensar que nem tudo se irá perder no vómito do primeiro fim de semana com bares abertos.
A minha revelação já aconteceu: defini quais dos meus amigos irão fazer parte da minha equipa em caso de apocalipse zombie. Estou muito desiludido com a maioria. E, a partir de agora, irei avaliar as pessoas pela quantidade de rolos de papel higiénico que têm armazenados na despensa, mais que pelas suas estantes de livros.
No dia em que lerem isto, a situação já deverá ter melhorado. Uma coisa é certa: vamos todos mesmo morrer, eventualmente. O importante é como nos comportamos até lá.
Saúde. Nós sobrevivemos a isto.