Inspirada nos primórdios das redes sociais, criou a Inocrowd, uma plataforma que aproxima investigadores e organizações que necessitam de soluções inovadoras.
Como surgiu esta ideia?
A minha formação é na área da ciência farmacêutica, onde trabalhei durante quinze anos na investigação e ensaios clínicos. Ali percebi que, apesar de ser fundamental, a partilha de conhecimento não era suficiente.
Em 2008 decidi fazer um MBA em Gestão e Finanças. Foi a altura em que surgiram as redes sociais e o LinkedIn inspirou-me a pôr em prática, com a tecnologia que estava ao nosso dispor, esta ideia da partilha do conhecimento. No trabalho de final de curso, eu e mais dois colegas acabámos por criar uma plataforma que liga investigadores e pessoas com know-how com organizações que necessitam de soluções inovadoras. Comecei por pensar em voltar a plataforma mais para a área da saúde, mas os primeiros desafios acabaram por ser em outras áreas.
E como funciona?
Qualquer organização de qualquer sector pode colocar um desafio na Inocrowd (inocrowd.com.pt), que neste momento está completamente automatizada com Machine Learning e Inteligência Artificial. Quando se coloca um desafio, a plataforma escolhe entre a rede de 1,6 milhões de ‘solvers’ quem é que deve ser notificado. Os que tiverem uma solução, apresentam-na e dizem por quanto é que estão dispostos a vender a patente ou a transmitir o conhecimento.
Até agora, quando se tinha um problema, tentava-se resolvê-lo dentro da empresa e isso podia levar muito tempo. Neste momento podem colocar este problema na Inocrowd, que, por contar com esta vasta rede internacional, consegue num espaço de quatro a seis semanas encontrar soluções inovadoras e com uma taxa de sucesso na implementação de 95%.
Pode exemplificar alguns destes desafios?
A ANA, por exemplo, tinha um problema no aeroporto Francisco Sá Carneiro que dificultava que algumas aeronaves conseguissem localizar o primeiro sinal de GPS que levava a encontrarem a manga para a qual se deveriam dirigir. Isso provocava atrasos e custos elevados à ANA. O desafio foi posto na plataforma e em sete dias surgiram sete soluções, algumas delas caríssimas. A vencedora implicava um custo zero e identificou uma interferência de um radar do Porto de Leixões. O radar foi rodado quinze graus, não custou nada ao Porto de Leixões e resolveu-se um problema que se arrastava há anos.
Outra situação veio da Autoeuropa: para avaliar a soldadura mecânica dos carros tinha de fazer ensaios destrutivos. A solução veio de um investigador que já tinha resolvido um problema semelhante com asas de aviões da Airbus. A metodologia foi posta à prova, foi 100% eficaz e revelou que, não só se podia substituir o ensaio destrutivo, como era melhor a identificar falhas que o ensaio destrutivo não detectava.
Como fez para dominar algum conhecimento tecnológico?
Enfrentando desafios. Utilizei um programa na minha anterior plataforma que me deu muitos problemas – e quando se tem problemas e não se tem dinheiro para os resolver, uma pessoa, ou chora, ou resolve-os. Resolvi-os e aprendi. Posso não saber programar, mas sei por onde é que se deve ir.
Disse, uma vez, que não é fácil ser empreendedor, menos ainda quando se é mulher e na área das Tecnologias da Informação.
A maior parte dos CEO das empresas são homens e muitas vezes não nos levam a sério. Uma CEO de uma tecnológica, muito menos, sobretudo sendo uma farmacêutica a querer abrir uma tecnológica. Nunca me desculpei com isso. Estava claro para mim que tinha de ser 300% melhor que as outras pessoas e demonstrá-lo com trabalho. Assim, quando ia a uma reunião, ia muito bem preparada: estudava meticulosamente as empresas e sabia muito bem quem que estava à minha frente. Esta preparação, o planeamento e a antecipação foram, e são, fundamentais.
Quis também diferenciar-me de uma consultora e, em vez de entregar folhas de PowerPoint, apresentava soluções que fossem mesmo resolver problemas, fazendo com que, no dia a seguir, pudessem dizer: «É mesmo da Inocrowd que preciso, porque não estou a conseguir resolver esse problema».