Para mim, há dois jogos passados no universo Star Wars que se destacam pela história e ambiente e que ainda não foram ultrapassados desde que saíram: TIE Fighter, um simulador em que o jogador assume o papel de um piloto de caça imperial que tinha de cumprir missões durante a era em que Palpatine mandava na galáxia. E Dark Forces, um FPS que contava a história de Kyle Katarn, o agente que roubou os planos da primeira Estrela da Morte e os deu à Rebelião. Infelizmente a excelente história deste “007 espacial” foi deitada fora e recontada no filme Rogue One de 2016.
Joguei a primeira versão de Star Wars Battlefront quando saiu e agora, depois de ver os vários trailers fiquei algo curioso para pôr as mãos em Battlefront 2. Principalmente por causa da promessa de uma campanha single player que desse alguma profundidade ao jogo que o primeiro não teve.
Quando o jogo arranca pela primeira vez, depois de instalar um patch com alguns GB, percebe-se que visualmente Battlefront 2 está ao nível do melhor que se consegue fazer com a tecnologia de hoje. As cutscenes, que normalmente são pré renderizadas para terem mais qualidade de imagem, confundem-se com a imagem gerada em tempo real pelo motor Frostbyte 3 que é usado em praticamente todos os jogos da Electronic Arts, como FIFA ou o Need for Speed.
A campanha leva-nos pela história de Iden Verso, uma mulher soldado, membro da Inferno Squad, uma das equipas de operações especiais do exército imperial, que tem como missão inicial, impedir que os rebeldes tomem conhecimento da armadilha montada em Endor pelo imperador para destruir toda a sua frota. Este episódio passa-se no final de O Regresso do Jedi, o último filme da trilogia original.
A missão seguinte leva-nos para a superfície da lua de Endor. Aqui Iden vê a segunda Estrela da Morte a ser destruída pelas forças rebeldes e é forçada a encontrar uma forma de fugir. Esta missão inclui uma das melhores florestas que já vi num jogo. A forma como a luz passa entre as folhas a quantidade de partículas que flutuam pelo ar e até a cor da terra. Tudo está perfeito. Só falta mesmo o cheiro a plantas e terra molhada para a simulação ser perfeita.
Com o decorrer da campanha continuamos a ser brindados com cenários de uma perfeição fora do vulgar. Mas tudo isto serve apenas para mascarar um pouco a falta de profundidade da história. Tudo soa um pouco forçado, a história não prende o jogador. E com cerca de 4 horas de duração, parece que está lá mesmo só porque a sua existência foi prometida aos jogadores.
A campanha single-player é salpicada por alguns níveis, ou zonas, em que tomamos conta de alguns heróis dos filmes, como Luke Skywalker ou a princesa Leia e usamos as suas habilidades e armas para ultrapassar esses níveis.
Nestas missões, apesar de continuarem a ter uns cenários impressionantes, a reprodução das personagens os gráficos falham. A reprodução é, para ser simpático, muito má. Por exemplo, o cabelo de Luke Skywalker parece um capacete e não destoava num anúncio de laca fixante. O único que ainda se parece algo com o actor real é Lando Calrissian. Nem a princesa Lei escapa. Nos closeups as caras são máscaras sem expressão. Em contraste, o modelo de Iden Verso e dos outros membros da Inferno Squad é quase perfeito. Têm textura e expressão.
Depois há os combates espaciais. De vez em quando Iden é colocada ao comando de caças, TIE Fighter e X-Wing, para cumprir algumas missões, como por exemplo ajudar na destruição de satélites ou de um cruzador inimigo. Sei que Battlefront não é um simulador, nem tem pretensões a sê-lo, mas, para começo, os controlos são muito sensíveis e estão configurados de uma forma pouco natural. Claro que tudo pode ser ajustado ao gosto do utilizador. Depois, estas missões não acrescentam nenhum grau de excitação ao jogo, é tudo muito mecânico, não há desafio.
No meio de uma campanha sem brilho, há uma personagem que se destaca: Shriv. Esta personagem aparece na missão em que controlamos Lando Calrissian e é talvez a melhor personagem de todo o jogo. Os diálogos cheios de sarcasmo são uma lufada de ar fresco.
Tecnicamente não há muito a assinalar no que respeita a problemas, tirando algumas intermitências da imagem no inicio de algumas cut scenes.
Multiplayer
Basicamente, Battlefront 2 utiliza a mesma formula do primeiro episódio. Existem quatro classes por onde escolher: Assault, Heavy, Officer e Specialist. Cada uma tem funções diferentes na equipa e utiliza armas diferentes. Por exemplo, o Heavy tem mais escudos e uma arma que dispara rapidamente, mas faz pouco dano. Já o Specialist tem uma arma de mira telescópica capaz de eliminar um inimigo com um só tiro, mas dispara mais devagar.
Ao contrário de outros FPS, em Battlefront as armas não são carregadas, em vez disso ao fim de alguns disparos as armas sobreaquecem e têm de ser arrefecidas. Isto é o equivalente ao carregamento da arma num FPS tradicional. O que Battlefront 2 inovou neste ponto é o arrefecimento activo. Quando a arma sobreaquece, aparece uma barra no ecrã com um cursor que vai da direita para esquerda. Se o jogador premir a tecla no momento certo a arma arrefece mais depressa ou aumenta o tempo entre arrefecimentos, permitindo que se dispare mais vezes. Este sistema é igualzinho ao que foi estreado em Gears of War para Xbox com o recarregamento activo.
Outra novidade está na forma como os heróis (as personagens principais dos filmes) são chamados para as arenas de jogo multiplayer. Em Battlefront apanhavam-se objectos que chamavam os heróis. Em Battlefront 2 ganham-se ponto à medida que se progride no mapa que depois podem ser gastos a chamar heróis para dar uma ajuda.
Pela forma como estão feitos, os heróis têm a capacidade de virar um jogo perdido e transformá-lo numa vitória para qualquer equipa, se forem usados de forma inteligente. Por exemplo, Yoda é tão pequeno e rápido que convido alguém a acertar-lhe mais que duas vezes seguidas. Não vale à sorte! Para equilibrar o jogo, só é possível ter um herói de cada vez no mapa, por isso arrecadar pontos para chamar um herói é também uma corrida entre as equipas e acrescenta um factor de incerteza nos confrontos.
Battlefront 2 tem cinco modos de jogo multiplayer, sendo o maior o Galactic Assault em que podem participar 40 jogadores de cada vez. Aqui as duas equipas têm de capturar vários objectivos no mapa. Neste modo pode usar veículos como os AT-AT ou caças.
Já o modo Strike é um combate entre duas equipas com 8 elementos cada. Uma defende e outra tenta capturar o objectivo. Isto torna o jogo mais táctico que noutros modos. Se gosta de combates espaciais, então o modo Starfighter Assault é para si. Neste modo 24 jogadores competem pelo controlo dos céus.
Para os amantes de deathmatch tradicionais existe o Blast que coloca 10 contra 10 em zonas isoladas de mapas maiores.
Por fim o Heroes VS Villains em que cada jogador controla uma das personagens dos filmes.
Em relação aos mapas propriamente ditos, Battlefront 2 desenrola-se em 11 locais ligados aos filmes e mais vão ser lançados gratuitamente depois do filme Star Wars os Últimos Jedi sair no mês de Dezembro.
A acção é semelhante à do primeiro episódio: frenética. Em alguns modos, como o Strike, é necessária coordenação entre os membros da equipa para conseguir ganhar. Já o Heroes VS Villains é mais todos contra todos. Apesar das diferenças, todos são divertidos e apresentam um desafio diferente aos amantes do género.
Cartas? Como assim cartas?
Star Wars Battlefront 2 utiliza umas coisas chamadas Star Cards (que vêm dentro de “loot boxes” cujo conteúdo se desconhece de todo), para recompensar os melhores jogadores com armas mais potentes, novas habilidades e a possibilidade se usarem os heróis. No entanto, na minha opinião é um sistema algo complexo e tão pouco prático que a única coisa que consegue fazer é frustrar os jogadores
Essas caixas podem ser compradas usando créditos que se ganham a jogar nos vários modos multiplayer (nestas partidas ganha-se em média entre 100 e 350 créditos) ou gastando dinheiro real através da loja da Electronic Arts. Este último sistema foi suspenso devido à gigantesca demonstração de desagrado dos jogadores com a sua forma de funcionamento.
Existem três tipos de caixas à disposição dos jogadores: com cartas de heróis que desbloqueiam a sua utilização e custam 2200 créditos, com cartas específicas para caças que custa 2400 créditos e uma caixa com cartas para as classes de personagens mais comuns que custa 4000 créditos.
Como se consegue perceber, para se conseguir ganhar créditos que se vajam há que matar muita gente. E o pior é que mesmo depois de passar horas a fazer grind, como tudo é mais ou menos aleatório, pode acabar por obter algo que não valha absolutamente nada.
Mas a complexidade não fica por aqui. Para além de serem aleatórias, as cartas também estão divididas em quatro níveis de raridade e poder. Uma das cartas menos potente custa 40 Crafting Parts. Cada caixa inclui entre 45 e 60 parts. Já as mais potentes custam até 480 parts. Voltamos ao grind…
Outra dificuldade para se conseguirem as cartas de topo é que, mesmo que tenha as 480 parts, tem de ter a conta e a personagem no nível apropriado.
Não percebeu como é que tudo isto funciona? Eu também não. Esta é daquelas coisas que no papel e na cabeça dos executivos da EA talvez faça sentido, mas que depois, na prática, é tão complicado e inútil que pode destruir um título que tem tudo para ser um grande êxito.
[su_box title=”Conclusão” style=”soft”]Star Wars Battlefront 2 é como o Dr Jekyll e o Mr Hyde: por um lado oferece visuais espectaculares e coloca-nos no meio da acção de uma das maiores sagas da história das Space Opera com personagens icónicos que nos falam directamente na imaginação. Por outro lado, falha em coisas que não devia, como a construção das personagens específicas da história do jogo, na forma como as personagens dos filmes estão inseridas à pressão na campanha single player e naquele inenarrável sistema de cartas que não serve para nada. O multiplayer está ao nível do primeiro com algumas melhorias, mas, francamente, gostei mais do primeiro Battlefront da EA do que deste. Mesmo sem campanha single player.[/su_box]
Editora: Electronic Arts
Distribuidor: Bandai Namco
Contacto: www.ea.com
Disponível para: Playstation 4 (versão testada), XBox One, PC
Preço: €69,99 (XBox One/PS4), €59,99 PC