Está tudo a acontecer e eu aqui?
Todos os dias a todas a horas, os estímulos são mais que muitos. Não cabem na nossa agenda, não cabem no nosso tempo, não cabem numa sala à qual muitos vêem confinado o seu local de trabalho.
As sugestões que nos levam rapidamente a um estado de frustração, entram-nos pela “Time Out”, com sugestões do local perfeito para almoçar ou do rooftop com a melhor vista de Lisboa, acabado de inaugurar, onde seria perfeito ver o pôr-do-sol, se não estivéssemos a enviar os últimos mails do dia, fechados num cubículo e isolados do mundo.
Entram-nos pela secção de Lifestyle da app de notícias, que nos lembra que aquele workshop que adorávamos ir, é hoje e começa daqui a 15 minutos, na outra ponta da cidade. Entram-nos pelo RSS Feed do site daquela marca que nos lembra que o tão esperado auricular com cabos que não se enrolam, já chegou à loja há mais de 15 dias, mas à hora a que saio do escritório, o trânsito só convida a fazer o melhor atalho para casa, sem desvios aventureiros. Entram-nos pelo lembrete do telemóvel que nos recorda que era hoje aquela aula especial no ginásio, onde não conseguimos ir há 1 mês.
O café, além de ser uma bebida, também significa pausa: a pausa que nos permite sair do cacifo de 4 paredes e, enquanto metemos a cápsula na máquina, nos permite falar da desconfiança sobre as últimas aquisições do nosso clube. O café é tudo isto. Porque trabalho é noutro local: num local feito para trabalhar – mesmo que possamos levar o café connosco, mas a melhor parte do café perde o sabor.
Nos dias de hoje, Trabalhar pode ser e é aquilo que sempre quis que fosse: deve ser motivador, não só o resultado, mas o acto de chegar a ele. A partilha de ideias com quem conhece o negócio ou com quem poderá vir a ser ‘somente’ um utilizador do projecto em que estou a trabalhar.
Trabalhar deve ser motivante. Ir trabalhar também. Ainda que o verbo ‘ir’ me faça menos sentido, quando associado a trabalhar, porque na realidade, vou trabalhando. Trabalho enquanto falo com os meus companheiros do espaço de coworking. Trabalho, enquanto peço uma opinião sobre um CRM, à mesma pessoa a quem acabei de explicar como se desencrava uma pastilha da máquina de café.
Trabalho enquanto conduzo, trabalho enquanto vejo os meus filhos nadar na praia, e confirmo com o front desk do meu virtual office o que vinha dentro da encomenda que acabei de receber em Lisboa e cujo alerta me foi dado imediatamente na app myOffice. Trabalho enquanto almoço na recém-inaugurada esplanada em Belém, porque tenho ali mesmo tudo o que preciso para trabalhar, sem ter que ir trabalhar.
Trabalho porque sou feliz a trabalhar e trabalho para ser feliz sem trabalhar.
Porque houve um dia em que decidi que devia dar tempo ao meu Tempo. E que podia ter hoje aquilo para que muitos trabalham uma vida inteira: ter tempo para si mesmos.
Haverá melhor luxo do que este?
Carlos Gonçalves
CEO Avila Spaces