Um dos dramas de qualquer carreira profissional, sobretudo das mais técnicas, é um fenómeno que dá pelo nome de ‘fear of missing out’ – FOMO. Edison não deverá ter sofrido disto, mas, nos tempos actuais, com uma evolução tecnológica vertiginosa, é um problema bem presente na vida de mulheres e homens do universo da tecnologia, uma vez que as coisas mudam a cada seis meses (era bom, era…) e isto exige um esforço de actualização permanente para o qual a maioria das pessoas não tem tempo (isto, se quiser ao mesmo tempo ter uma vida…).
Já sofri disto. Já me obriguei a maratonas de leitura, embora a minha pasta ‘Ver depois’ seja semelhante à Biblioteca Nacional, em número de volumes. A dada altura, tive de optar: ou se trabalha ou se aprende. Desculpem lá, mas ainda não descobri a solução mágica para viver o melhor dos dois mundos – a dada altura, tive de optar e as concessões ao estudo são cada vez menores.
Tenho um Curso Industrial: foram anos perdidos entre limalha de ferro, estiradores e tira-linhas, tempo que ninguém me devolve, perdido entre esquadrias, godets de tinta da China e coisas que bem podiam ter ardido no Inferno que foi esse percurso. Sofri bastante no Desenho Técnico, onde a minha luta com passos de rosca, métricos ou imperiais, desaguou em centenas de parafusos mal desenhados ou com roscas a que torneiro algum conseguiria dar forma, de tão imperfeitas.
Não foi a única matéria onde meti o nariz: até em planeamento de lajes, tramos e nós, uma engenharia de curioso, embora nunca tenha almejado construir um prédio. Partilhei sempre, ainda que não o soubesse, a ideia de que ‘se não sabes, vais bater à porta de quem saiba’. Isto, dito assim, parece simples: nem sempre as portas se abrem ou, quando se abrem, nem sempre os mestres têm paciência (ou jeito) para transmitir conhecimento.
Ironicamente, nos últimos tempos, tive de fazer um mergulho intenso em matérias das quais fugi a sete pés durante toda a vida. Ainda traumatizado pela minha juvenil experiência de péssimo desenhador industrial, atirei-me de repente ao CAD, ao Fusion e, até (loucura), ao Blender. Hoje, no meu Mac, desenhei um parafuso em trinta segundos e, em pouco menos de meia, hora tinha-o na mão, fisicamente falando. Quando o enrosquei na porca respectiva, quase senti lágrimas nos olhos. True story. Talvez o FOMO nem sempre seja mau conselheiro – às vezes, empurra-nos para medos antigos, só para descobrirmos que o tempo e a tecnologia os transformaram em pequenas vitórias.