Apesar da controvérsia em torno da IA generativa, alguns designers de jogos utilizam a tecnologia para fazer brainstorming de conceitos durante o desenvolvimento. O novo modelo de código aberto da Microsoft pretende tornar esta prática viável para a criação de conteúdo interactivo. Foca-se em manter a consistência ao longo de muitos frames, reconhecendo e integrando o input do jogador.
Investigadores da Microsoft apresentaram recentemente o Muse, um modelo de IA generativa concebido para extrapolar cenários de videojogos interactivos a partir de imagens, clips e inputs gravados do jogador. A ferramenta pretende agilizar o desenvolvimento de jogos, mantendo práticas éticas de treino. Os pesos, dados de amostra e interface interactiva para o Muse, que a Microsoft chama de “World and Human Action Model”, estão agora disponíveis no Azure AI Foundry. Os programadores deram detalhes sobre a tecnologia no blogue de investigação da empresa e num estudo recentemente publicado na revista Nature.
Após um treino com um milhão de actualizações, o Muse consegue prever fielmente até meio minuto de gameplay com base num segundo de filmagem real e nove segundos de input do jogador. Ao contrário de modelos anteriores, onde os detalhes do jogo desaparecem ou ficam distorcidos assim que saem do frame visível, o Muse lembra-se de detalhes como terreno, personagens e mecânicas de jogo.
Numa entrevista em vídeo com o chefe da Xbox, Phil Spencer, Dom Matthews da Ninja Theory explicou que a empresa não planeia usar o Muse para construir conteúdo para utilizadores finais. Em vez disso, o estúdio planeia usá-lo para ajudar a esboçar e iterar ideias, gerando rapidamente snapshots para uma visão coesa. Não está claro se outros programadores seguirão uma filosofia semelhante, mas a Microsoft não irá impor o uso dos seus modelos nos seus estúdios.
Alguns programadores expressaram imediatamente desinteresse na nova tecnologia. David Goldfarb, que trabalhou em Battlefield, Mass Effect e Killzone, publicou uma resposta breve na rede social X a descartar a tecnologia. Marc Burrage da Creative Assembly disse à revista Wired que mesmo restringir a IA generativa à fase de prototipagem pode prejudicar o desenvolvimento de jogos, roubando aos funcionários experiência prática.
Spencer especulou que tecnologias como o Muse podem facilitar a preservação de jogos, ajudando os programadores a trazer títulos mais antigos para dispositivos modernos. A Microsoft tem prometido frequentemente preservar as bibliotecas digitais dos seus clientes em todas as gerações de hardware, mas resta saber se regenerá-las com IA pode produzir resultados satisfatórios. Frank Cifaldi da Video Game History Foundation não está tão optimista, comparando a ideia a uma fotocópia de uma pintura.
A Microsoft também enfrentou duras críticas em relação aos dados de treino do Muse. Grande parte da forte controvérsia que envolve os modelos de IA decorre do facto de as empresas utilizarem material de toda a Internet sem o consentimento dos criadores originais. A Microsoft contornou a questão treinando o Muse em jogos que já possui.
A demonstração inicial utilizou dados de telemetria de jogadores do shooter multijogador da Ninja Theory, Bleeding Edge. Os utilizadores que concordaram com o EULA do jogo já consentiram em ajudar a treinar o Muse. Teoricamente, a empresa poderia estender a prática a títulos populares como Minecraft, Call of Duty, Halo, Overwatch, StarCraft, Doom ou Forza.