Uma rede virtual privada (VPN) é como um túnel protector que pode usar para atravessar uma rede pública, protegendo os seus dados de olhares indiscretos. Quer esteja preocupado em esconder a sua actividade online do seu ISP para que não venda os seus dados a anunciantes, ou se se quer manter seguro quando usa hotspot Wi-Fi público para impedir que bisbilhoteiros digitais capturem as suas passwords, uma VPN pode ajudar a protegê-lo.
No entanto, embora uma VPN o pode manter seguro quando usa o Wifi do seu café predilecto, tem um custo. Usar uma VPN significa que o fornecedor de serviços de VPN fica a saber tudo sobre os seus hábitos de navegação. Isto torna os fornecedores de serviços de VPN um alvo apetitoso para hackers.
Escolher o serviço de VPN certo é um assunto sério, porque a sua privacidade online está em jogo. A maioria dos fornecedores de serviços de VPN diz que não mantém registos da actividade dos seus utilizadores, mas como se pode ter certeza? Por este motivo, limitámos as nossas sugestões a fornecedores de serviços de VPN auditados independentemente por empresas de segurança.
Proton VPN
A Proton VPN faz parte de um conjunto de ferramentas de privacidade da Proton, mais conhecida pelo seu serviço de email encriptado, ProtonMail. A empresa está sediada na Suíça, que não tem leis de retenção de dados, pelo que a Proton VPN pode ter uma política de não registo. Foi auditada independentemente e mantém uma página de “warrant canary”. Todas as funcionalidades habituais de uma boa VPN estão aqui, incluindo suporte para conexões multi-hop, um kill switch na aplicação, suporte para túnel dividido, evasão geográfica bastante boa para fazer o Netflix funcionar e suporte para redes de partilha de ficheiros. Também há suporte para alguns complementos interessantes, como bloqueio de anúncios, protecção contra malware, DNS personalizado, Tor sobre VPN (ligação a sites .onion) e streaming de alta velocidade.
A Proton VPN também oferece uma boa VPN gratuita. Ao contrário da maioria dos serviços, a versão gratuita da ProtonVPN dá acesso total a todos as funcionalidades do plano pago. Está limitada a um único dispositivo e existem apenas três localizações de saída (Japão, Holanda e EUA), mas todo o resto é igual. Se as suas necessidades forem limitadas e quiser manter os custos baixos, esta é uma boa opção.
A aplicação VPN da Proton é de código aberto e está disponível para quase todos os sistemas operativos, incluindo macOS, Linux, Windows, Android e iOS. Com o plano Plus, podem ligar-se simultaneamente até 10 dispositivos. A Proton VPN usa uma combinação de IKEv2, OpenVPN e WireGuard para as ligações. Por defeito, a aplicação escolhe por si, mas pode fazer uma selecção nas definições. Também há o Permanent Kill Switch, que impede o dispositivo de se voltar a ligar à Internet sem uma VPN, mesmo após uma reinicialização.
As velocidades na Proton VPN variam consideravelmente consoante o servidor e a hora do dia. No geral, a Proton VPN é muito rápida, reduzindo a velocidade em apenas cerca de 7 a 8 por cento em comparação com a velocidade de uma ligação desprotegida.
A Proton VPN tem um plano gratuito, mas está limitado a um dispositivo. Caso contrário, custa 4,49 euros por mês se comprar um plano de dois anos ou um ano, e 9,99 euros por mês se pagar mensalmente.
Mullvad
A Mullvad tem uma abordagem realista que não exagera no marketing e ajuda os utilizadores a tomarem medidas adicionais para proteger a sua privacidade. Por exemplo, a empresa tem uma página inteira a mostrar como desactivar o WebRTC no browser web. Desde que o WebRTC esteja activado (e está por defeito na maioria dos browsers), os sites podem ver o seu endereço IP real mesmo quando usa uma VPN.
A privacidade tem uma prioridade tão alta na Mullvad que pode até pagar por ela em dinheiro. Se preferir permanecer totalmente anónimo, pode gerar um número de conta aleatório, anotar esse número num pedaço de papel e enviá-lo, juntamente com dinheiro, para a Suécia. Em teoria, ninguém poderá ligá-lo a essa conta.
A Mullvad oferece aplicações para todas as principais plataformas, bem como routers. As aplicações são todas de código aberto que pode ser verificado no GitHub. O serviço foi auditado independentemente. Utilizadores mais avançados podem descarregar ficheiros de configuração e usá-los directamente com os protocolos OpenVPN ou Wireguard.
A Mullvad tem um número mais reduzido de servidores do que serviços mais rápidos como a NordVPN, mas, mesmo assim, as ligações são sempre rápidas. O único problema é que muitos sites bloqueiam os seus servidores. O Reddit, às vezes o YouTube, Facebook e Instagram, todos bloqueiam frequentemente quando se usa a Mullvad, assim como o ChatGPT.
A Mullvad VPN custa 5 euros por mês, em dinheiro ou cartão.
Surfshark
Se quiser uma forma de contornar algumas restrições geográficas de conteúdo (ou seja, aceder ao Netflix) e proteger o seu tráfego enquanto usa um hotspot Wi-Fi aberto, a Surfshark é uma boa escolha. É segura e oferece uma excelente relação qualidade/preço se pagar dois anos adiantados.
A Surfhsark é suficientemente rápida para que não note muita degradação da velocidade.
A Surfshark oferece todos as funcionalidades de privacidade de que precisa numa VPN, como um kill switch que interrompe automaticamente o seu tráfego se a ligação VPN falhar, e suporte para ligações VPN multi-hop, o que significa que o tráfego vai da sua máquina para um servidor VPN para outro servidor VPN e, em seguida, para o servidor de destino. A tecnologia multi-hop fornece uma camada extra de protecção caso a própria VPN seja comprometida, embora haja uma perda de velocidade correspondente ao usar uma conexão deste tipo.
A empresa também adicionou recentemente suporte para configuração manual do protocolo Wireguard. A maioria dos utilizadores necessita apenas das aplicações da Surfshark, mas se estiver a tentar ligar a sua rede à Surfshark directamente através de um router, a configuração manual será mais adequada.
A Surfshark adicionou recentemente suporte para endereços IP dedicados. Dado que os IP partilhados são a forma como alguns sites bloqueiam o acesso às VPN, um IP dedicado pode ser útil para aqueles que querem desbloquear serviços de streaming. A Surfshark tem seis localizações de IP dedicadas, mas o número de IP é limitado. Um IP dedicado custa um valor extra por mês e só funciona com as aplicações da Surfshark.
A Surfshark está sediada nas Ilhas Virgens Britânicas, que, embora tecnicamente um território da Grã-Bretanha, é geralmente considerado um paraíso fiscal e não tem leis de retenção de dados. A empresa tem uma política de registo zero e pode (e deve) optar por não participar nos relatórios de falhas de diagnóstico da aplicação. As extensões para os browsers da empresa foram submetidas a uma auditoria de segurança independente que não dectetou quaisquer problemas significativos e, em Janeiro de 2023, a empresa de auditoria Deloitte verificou a declaração de não registo da Surfshark. Em 2022, a Surfshark fundiu-se com a NordVPN, mas opera de forma independente.
A Surfshark custa 2,19 euros por mês se pagar dois anos adiantados e 3,19 euros por mês se comprar um ano adiantado.
TunnelBear
Escolher uma VPN pode ser complicado. Se está cansado de jargão de segurança e de ícones de cadeado, a TunnelBear pode ser a VPN para si. As suas animações com um urso ajudam a desmistificar o que as VPN fazem, como funcionam e o que lhe podem oferecer. Às vezes, a maneira mais fácil de tornar a tecnologia mais acessível é dar-lhe uma cara amigável.
Mas não se preocupe, a TunnelBear não é só animações fofinhas. Tem os mesmos recursos de segurança que outros fornecedores de serviços de VPN, como uma política de não registo e uma política de privacidade clara, e foi auditada independentemente. As aplicações TunnelBear são um pouco mais básicas do que outras, mas as funcionalidades básicas de uma VPN estão todas lá, como um kill switch para desligar o acesso à Internet se a VPN cair, opções para todos os protocolos VPN comuns e criptografia AES de 256 bits.
As velocidades com a TunnelBear são competitivas com as outras opções abordadas neste artigo. Uma das melhores coisas da TunnelBear é a opção de teste gratuito, que permite testar o serviço para ver como são as suas velocidades sem se comprometer. A TunnelBear tem menos localizações de servidores geográficos do que algumas das nossas outras opções, mas a menos que esteja a viajar para o estrangeiro ou precisar de contornar uma restrição geográfica específica, isso não deve importar para a maioria dos utilizadores.
A TunnelBear custa 3,33 dólares por mês.
NordVPN
Em 2020, a Nord Security fundiu-se com a Surfshark VPN. Ambas as VPN continuam a operar de forma independente, mas há uma sobreposição considerável nos serviços oferecidos. A empresa-mãe da Nord está sediada no Panamá, que está fora da Aliança 14-Eyes, o que significa que não há nada a forçar a NordVPN a recolher dados dos utilizadores.
A NordVPN tem muito a recomendar, talvez o destaque seja a velocidade, especialmente quando se trata de velocidades de upload, o que a torna uma escolha popular para partilhar torrents. Há um bloqueador de anúncios e de rastreamento integrado na aplicação móvel, e a NordVPN é óptima para desbloquear sites de entretenimento como Netflix, Hulu e Max. As aplicações NordVPN oferecem um kill switch que interrompe automaticamente o tráfego se a ligação VPN falhar e suporta ligações multi-hop. A NordVPN suporta uma boa variedade de protocolos, incluindo OpenVPN, IKEv2/IPsec para dispositivos móveis e o que a empresa chama de NordLynx, que é baseado no WireGuard.
O histórico da NordVPN no que respeita à privacidade também é muito bom. Em Outubro de 2024, no decorrer de uma investigação criminal, a NordVPN recebeu um mandato vinculativo do governo panamiano para fornecer dados de vários utilizadores. A empresa diz que “a única informação que pudemos fornecer foram dados relacionados com o pagamento e a confirmação sobre a existência da conta vinculada ao endereço de e-mail que nos foi fornecido pelas autoridades”.
Se optar por um plano de 2 anos, a NordVPN custa 6,99 euros por mês, se quiser usar durante apenas 1 mês custa 16,59 euros.
Tor
Se estiver numa situação em que a segurança pessoal é da maior importância, não confie numa VPN, a rede Tor. A rede Tor faz algumas das mesmas coisas que uma VPN, mas é diferente. O Tor fornece anonimato, o que significa que ninguém consegue descobrir quem é, mas não necessariamente privacidade. As pessoas ainda podem ver o que está a fazer, mas não saberão que é que o está a fazer. As VPN fornecem privacidade porque ninguém consegue ver o que está a fazer enquanto sai de um túnel VPN, mas não oferece anonimato porque o fornecedor do serviço sabe sempre que o utilizador é.
O Tor é simples de configurar. Tudo o que precisa de fazer é descarregar o browser Tor que depois o liga à web. Depois de ligado à rede Tor, pode navegar na web normalmente. Excepto que tudo será mais lento. Ao usar o Tor, o seu pedido para um site passa por vários nós na rede, antes de emergir e se ligar ao site que deseja visitar. Isto torna o Tor lento, às vezes incrivelmente lento, mas isso é necessário para proteger o anonimato. E sim, pode combinar uma VPN com o Tor, embora isso esteja um pouco além do âmbito deste guia.
O browser Tor é gratuito, mas se o achar útil pode fazer uma doação ao projecto.
Quais são as limitações das VPN e será que precisa mesmo de usar uma?
É importante entender não apenas o que uma VPN pode fazer, mas também o que ela não consegue fazer. Como foi dito acima, as VPN funcionam como um túnel protector. Uma VPN protege-o de pessoas que tentam bisbilhotar o seu tráfego enquanto ele está em trânsito entre o seu computador e o site que está a ver ou o serviço que está a usar.
As redes públicas às quais qualquer pessoa pode aderir – mesmo que tenha de usar uma password para se ligar – são fáceis de comprometer por atacantes que queiram ver os dados que passam pela rede. Se os dados estiverem a ser enviados sem criptografia – como acontece quando os sites não usam HTTPS – a quantidade de informações que um invasor pode recolher pode ser desastrosa. Os browsers web costumavam mostrar um ícone de cadeado verde na parte superior do ecrã ao lado do endereço do site, mas isso está a desaparecer. Em vez disso, avisam quando uma página não é segura. Actualmente, a maioria dos sites usa HTTPS, mas, por exemplo, em sites de escolas, bibliotecas e de pequenas empresas, isso pode nem sempre ser o caso. A menos que se use uma VPN, que oculta a sua actividade, mesmo em sites não criptografados.
Uma VPN também altera o endereço IP, o que adiciona mais uma camada de protecção. Ao fornecer um endereço IP diferente, uma VPN pode fazer parecer que está num local físico diferente. Portanto, mesmo que esteja sentado à frente do computador em Telheiras, o site que está a aceder pensará que está no Canadá, Hungria, Uruguai ou Tailândia.
Infelizmente, este método de ocultar a sua localização não é hermético. A tecnologia integrada nos browsers, conhecida como WebRTC, pode revelar o verdadeiro endereço IP, mesmo quando se usa uma VPN. Se isso for uma preocupação, desactive o WebRTC no browser antes de se ligar a uma VPN. A Mullvad tem instruções sobre como desactivar o WebRTC na maioria dos browsers.
É discutível o quanto mascarar o endereço IP ajuda a proteger a privacidade em primeiro lugar. O endereço IP é apenas um dos muitos, muitos bits de dados que os sites recolhem sobre os utilizadores. Se a privacidade for a sua preocupação, é melhor usar browsers (e extensões) que oferecem ferramentas adicionais para proteger a privacidade. O Firefox da Mozilla tem várias dessas ferramentas disponíveis. Ou se quiser mesmo esconder todas as actividades, a melhor opção é usar o Tor.
De qualquer forma, o importante a lembrar é que usar uma VPN não o torna anónimo. Embora as VPN possam não ser capazes de fazer muito para proteger a privacidade, são uma ferramenta essencial quando se trata de proteger os dados de bisbilhoteiros que tentam recolhê-los quando passam por redes inseguras.