Com o mês de Agosto, as férias e o calor para trás, é altura de voltar ao trabalho, mas também ao sofá e à TV. E, a abrir esta temporada televisiva, tivemos duas figuras de proa mundial a abordar o futuro, agora que a IA se tornou pandémica: Bill Gates e Oprah Winfrey. O primeiro, contribuiu para a revolução tecnológica iniciada com o PC, e acompanhou desde a incepção ao ponto de inflexão a que chegámos; a segunda, uma figura pública televisiva que, aos dias de hoje, se dedica a explicar a Hollywood o esplendor que é a voz da Adele, aos norte-americanos, em geral, o que faz o casal ex-real no exílio e, agora, a inteligência artificial. Um e outro, têm alcance mundial: o primeiro é um insider; a segunda, uma outsider com acesso privilegiado. Ambos se manifestam ainda estupefactos com rapidez com que a IA se apresentou ao mundo e como foi acolhida.
Se, por norma, lê a PCGuia, este é um assunto que, certamente, já lhe é familiar e já o explorou…pelo menos à superfície. Terá também tido a oportunidade de ver o episódio da série de Bill Gates na Netflix que aborda o tema. O que a mim, de certa forma, me assolou a mente, foi a sensação que tive após o término do episódio: o distanciamento técnico e tecnológico de quem trabalha a IA para quem tem o dever de a pensar.
O leitor pode pesquisar entre as dezenas, centenas de podcasts sobre IA que hoje habitam as plataformas para perceber que o pessoal mais técnico está a navegar uma onda completamente diferente da daqueles que estudam o tema, tanto conceptual, como filosoficamente.
Eu, que me tenho tentado manter a par dos desenvolvimentos, ouvindo dezenas destes podcasts, fiquei também perplexo por não ter dado conta do alcance do ‘não percebemos como funciona’. Depois de todas as explicações de como são construídos os modelos (LLM), dos conceitos de deep learning, das neural networks e do reinforcement learning é, no mínimo, bizarro que ninguém consiga, efectivamente, explicar como a Ia aprende com a IA.
Chegados a esta conclusão, que ensinamentos retiramos? A que velocidade se avança? A metáfora do nevoeiro parece-me a mais avisada: se pouco vemos para a frente, não deveríamos ir com cautela e caldos de galinha? Até porque the winter is coming e não sabemos quantos anos durará.