Frostpunk 2 é um jogo que se desenrola num universo pós-apocalíptico ‘steampunk’ em que a Terra foi mergulhada numa nova era glacial de grandes proporções.
O jogo original passa-se numa cratera onde se constrói uma cidade à volta de um grande reactor para proteger o que resta da humanidade. O mundo de Frostpunk 2 é muito maior do que o do primeiro jogo. No original, quando se termina a campanha fica-se com uma cidade com cerca de 800 habitantes. Em Frospunk 2, o jogo começa com uma população 10 vezes maior.
Este aumento de escala torna Frostpunk 2 um jogo mais abstracto em que não se consegue fazer uma gestão mais micro das necessidades dos cidadãos e das facções. Aliás, quando se faz zoom na cidade de New London, não se consegue ver as pessoas. Isto corta um pouco a ligação emocional com a cidade que havia no primeiro. No entanto, quando se olha para a gestão macro de Frostpunk 2, o jogo é brilhante e obriga o jogador a fazer escolhas, às vezes muito difíceis pelas suas consequências, mas este é o papel do ‘presidente da câmara’.
De volta a New London
Tal como no primeiro jogo da série, temos de gerir a cidade de New London, décadas depois de ter sido fundada e construída no jogo original. Logo no começo há uma crise potencialmente grave: o carvão, que faz funcionar o gerador que fornece o calor que permite o funcionamento da cidade e impede os cidadãos de morrerem de frio, está a esgotar-se. Por isso, está na hora de expandir as fronteiras e procurar uma fonte de energia alternativa fora da cidade.
Em Frostpunk 2, já não se constroem estradas, casas ou fábricas individuais para expandir a cidade. Agora são construídos distritos que suportam milhares de pessoas. Em vez de uma escala de tempo de horas ou dias, semanas inteiras passam numa questão de segundos. Esta transformação de gestão micro para macro é interessante, principalmente no que respeita aos gráficos, mas perde-se algo no processo.
Ainda assim, é possível fazer alguma microgestão e planeamento estratégico. Para se poder construir um distrito, por exemplo para extracção de recursos, primeiro é necessário partir o gelo para expor os recursos que estão por baixo, e só depois é possível construir o distrito nessa zona. Existem bónus e penalidades para a forma como se arrumam os distritos. Por exemplo: os distritos habitacionais funcionam melhor perto de fontes de calor, mas sofrem com a poluição quando estão muito perto de distritos industriais.
Outra alteração que advém da nova forma como a cidade é gerida é que já não se atribuem trabalhadores a edifícios, mas pode-se ajustar a produção nos distritos, o que serve para controlar percentagem de trabalhadores que lá trabalham. Isto permite diminuir a produção em certos distritos se forem precisos trabalhadores noutros.
Esta é uma forma simples de gestão da mão-de-obra, mas faz com que Frostpunk 2 não seja um ‘city builder’ no sentido mais tradicional do género em que há uma maior granularidade do controlo do que se passa na rua ou nos vários sistemas que fazem funcionar a cidade. A maior parte da profundidade de Frostpunk 2 está reservada para o verdadeiro desafio na gestão de qualquer cidade: lidar com as pessoas que lá vivem.
Não se consegue agradar a todos
Depois há as facções… O jogo começa com apenas duas ou três facções na cidade, mas à medida que os meses e os anos passam, as escolhas que são feitas, ou não, darão origem a mais. Durante tempos de agitação ou mudança radical, fações menores podem separar-se dos grupos principais e, embora representem apenas uma pequena percentagem da população, podem criar grandes problemas.
As facções principais são os “Stalwarts”: fanáticos por lei e ordem que rapidamente começam a sugerir ideias como programas de ‘controlo de pensamento’ e a sugerir fazer experiências em. Depois há os “Frostlanders”, mais moderados que tentaram (e falharam) estabelecer a sua própria cidade fora das muralhas de New London, e os “New Londoners” que se dedicam a manter o gerador central a funcionar.
Mais tarde, a escolha de pesquisar e implementar novas tecnologias causou o surgimento de uma nova facção chamada “Peregrins”, que detestam tanto a tecnologia que querem desligar o gerador gigante que manteve a humanidade viva nos últimos 30 anos. Por fim, há os sobreviventes hardcore chamados “Icebloods” que andam sem camisa no frio mas também acham que os guardas da cidade devem ser imunes a processos judiciais.
À medida que os Peregrinos ficam cada vez mais irritados com a insistência em fornecer calor aos cidadãos de New London, eles pedem para deixar um grupo sair da cidade para explorar o mundo lá fora. Mas enquanto eles andam a passear na neve, ou a fazer ski, os Stalwarts percebem que é a sua hipótese de ganharem poder. Eles visitam as crianças desacompanhadas dos “Peregrins” e doutrinam-nas no seu “programa de juventude”. Isso faz com que os Peregrinos fiquem mais descontentes, mas isto faz com que os “Stalwarts” aumentem os seus números através da lavagem cerebral de crianças.
Em FrostPunk 2, para se conseguir fazer avançar a sociedade em qualquer direcção que se queira, é necessário aprovar leis que têm de ser votadas pelas várias facções que muitas vezes estão em conflito umas com as outras. Isso requer fazer, quase sempre, acordos. Um grupo pode ser persuadido a votar contra os seus interesses em troca de alguma consideração mais tarde, como concordar em pesquisar um ramo da tecnologia que eles favorecem ou deixá-los definir a agenda para a próxima votação.
Se for quebrada uma promessa feita a uma facção para conseguir aprovar uma lei, a aprovação dessa facção decresce. Se descer muito, a facção torna-se hostil começa a fazer comícios contra a administração da cidade, que, no limite, podem causar o fecho dos distritos até que se comece a dar-lhes o que eles querem ou se envie uma facção mais forte para os expulsar.
Escolhas lógicas. Ou não…
Há escolhas que parecem estar condenadas desde o início. A escolaridade obrigatória para crianças parece lógica (especialmente porque se não se educar crianças, elas começam a lutar nas ruas), mas que agenda deve ser ensinada? Aulas de sobrevivência sobre como suportar o frio e matar focas para comer faz sentido, mas não se quer progredir além da mera sobrevivência do dia-a-dia?
Que tal um currículo misto, com tempo gasto em ciências e tecnologia teórica, e outro gasto em conhecimento prático? O problema é quando se tenta ter uma abordagem equilibrada, todas as facções deixam logo de gostar do administrador. Eles não vêem isso como a administração a dar-lhes algo do que eles querem, o que eles vêem é a administração a negar-lhes a maior parte do que eles querem. É com isto que se tem de lidar em Frostpunk 2. Uma multidão irracional e raivosa que não está disposta a consensos.
Se quiser libertar-se por momentos desta sociedade, pode explorar o resto do mundo. O deserto gelado está repleto de locais com recursos para minerar, acampamentos abandonados para saquear e pequenos pedaços da história sobre o que aconteceu nas décadas desde os eventos do primeiro jogo. Também existem locais maiores que podem ser transformados em colónias para expandir a cidade e explorar um recurso específico, como comida ou petróleo. Para que estas colónias funcionem é necessário enviar alguns cidadãos para construir distritos e fazer funcionar tudo, tal como em New London.
Estas colónias podem ser ligadas a New London através de trilhos ou de ‘skyways’ , essencialmente teleféricos e assim criar uma rede logística entre os vários locais.
E tecnicamente?
Bom, a interface de Frostpunk 2 é um pouco confusa no início, mas com o andar torna-se fácil de usar. A única coisa é que acho que o apontador do rato é pequeno demais e perde-se no branco da paisagem, principalmente quando se está a explorar o mapa.
Os gráficos são interessantes e gostei francamente de pequenos pormenores como quando se fazem as votações das leis os representantes de cada facção mudam de cor consoante o voto. Se passar o rato por cima deles consegue-se ver uma pequena descrição daquilo em acreditam e dos seus ideais.
No que toca a desempenho, mesmo com a qualidade no máximo em quase todos os parâmetros consegue-se manter facilmente 60 fps a 4K (com uma 3080 TI).