Satélites Starlink estão a dificultar cada vez mais o trabalho dos radioastrónomos

Uma equipa de cientistas europeia descobriu que os satélites V2 da Starlink emitem 32 vezes mais energia do que os da geração anterior.

Por: Pedro Tróia
Tempo de leitura: 4 min
Imagem - LOFAR / ASTRON

Os céus estão muito mais congestionados do que antigamente, e os astrónomos estão a pagar o preço. Um novo estudo feito por uma equipa europeia de cientistas explorou o impacto da nova geração de satélites de internet da SpaceX na radioastronomia, e as notícias não são boas. Os investigadores afirmam que a proliferação de satélites Starlink mais poderosos está a ameaçar “cegar” os radiotelescópios, que são fundamentais para examinar os objectos mais distantes do universo.

Os astrónomos estão preocupados com o congestionamento em órbita desde que a SpaceX começou a lançar lotes de satélites para construir a rede Starlink. No início, foi a astronomia óptica que sentiu grande parte dos efeitos. A SapceX afirma ter tornado os seus satélites menos brilhantes, mas o problema persiste. A SpaceX passou a implementar satélites V2 mini, que são mais poderosos do que os da geração anterior, e alguns têm antenas maiores para permitir comunicações directas com smartphones.

Investigadores do Instituto Holandês de Radioastronomia (ASTRON) quiseram quantificar o efeito dos mais de 6.400 satélites Starlink através do radiotelescópio LOFAR (Low Frequency Array) nos Países Baixos. O grupo descobriu que as emissões dos satélites V2 são o maior problema para a radioastronomia, porque emitem 32 vezes mais energia electromagnética para a Terra do que os satélites da primeira geração. “São lançados cada vez que mais satélites com estes tipos de níveis de emissão, vemos cada vez menos do céu”, disse a directora da ASTRON, Jessica Dempsey, à BBC.

A radioastronomia envolve a análise das emissões de radiofrequência de objectos distantes no espaço, da mesma forma que a astronomia óptica olha para a luz visível. As observações de rádio podem permitir que os astrónomos consigam ver através de nuvens e nebulosas, revelando a presença de hidrogénio que seria invisível em comprimentos de onda ópticos. Os astrónomos usam radiotelescópios para observar objectos como galáxias, exoplanetas e os jactos relativísticos que emanam dos buracos negros.

À medida que a SpaceX implementa mais satélites V2, o ambiente electromagnético torna-se mais congestionado e esses objectos astronómicos tornam-se mais difíceis de ver contra a radiação de fundo. Os investigadores detectaram interferências de rádio de banda larga de 40 a 70 MHz e 110 a 188 MHz, intervalos de frequências importantes para os astrónomos. Dempsey afirma que a análise da ASTRON mostra que as emissões totais de radiação da Starlink excedem os regulamentos estabelecidos pela União Internacional de Telecomunicações. Ao contrário das garantias dadas à FFC (Federal Communications Commission) pela SpaceX.

Este problema só vai piorar. A SpaceX lança dezenas de novos satélites quase todas as semanas, e é apenas o primeiro operador de uma megaconstelação. A OneWeb está em segundo lugar, com menos de 1.000 satélites, e a Amazon espera chegar aos 3.000 na constelação Kuiper nos próximos anos.

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