O Zé é um homem comum em termos computacionais. Não é um CEO que se apoia numa equipa que tem recursos humanos para todos os seus desejos e necessidades, é um pequeno empresário que tem de providenciar suporte pessoal para a maioria dos projectos em que se envolve. Aprende quando tem de aprender (ou quando está pressionado e tem de aprender para produzir algo) e é daquelas pessoas (que eu aprecio) que não se limita a ver acontecer, precisa de mesmo de saber como é que certas “magias” se dão. Confesso que tenho em grande conta a inteligência activa deste género de pessoas.
Dá-me grande prazer pessoal ver a evolução de alguém para quem um processador de texto, uma folha de cálculo ou um editor de vídeo eram, há poucos anos, território hostil do qual fugia a sete pés e que hoje não consegue viver longe do seu ecossistema. Começou, há anos, com um Mac, mas depressa percebeu que a vida era impossível com ilhas sem interligação. Este Zé tem apenas um defeito irritante. Bom, talvez não seja um defeito irritante, até porque é uma característica que todos nós possuímos: a de os nossos focos de interesse serem incendiados pelos media. As perguntas do Zé nunca são banais ou mera trivialidade. Se escutou, leu ou tropeçou em phishing, é garantido que quer saber tudo, pois imagina o seu pequeno castelo a tombar às mãos dos bárbaros e não vai dormir descansado enquanto não perceber os fundamentos da ameaça.
Foi assim com folhas de cálculo, tabelas e gráficos, foi assim com a edição de imagem (os catálogos de ferragens da empresa do Zé nunca mais foram os mesmos) e foi assim com a edição de vídeo. Aos poucos, o saber do Zé foi-se acumulando e sabeis como o saber é exigente, é assim desde que o mundo é mundo: quanto mais se sabe, mais se busca novo conhecimento. De modos que acho que criei um monstro: esta semana, o Zé entrou porta dentro e deixou no ar uma frase assassina: «Por que é que nunca me falaste da WWDC?». Sosseguei-o. Que talvez não seja ainda para ele, a não ser que queira sofrer por antecipação de produtos que ainda não tem e que, na verdade, não sabe se quer ter. Que é uma espécie de convenção dos que fazem mais tarde acontecer coisas. Mas o Zé estava bem documentado e sabia que a Apple tinha “embrulhado” as futuras novidades AI debaixo de um nome bem esgalhado (50- diz-me que é AI sem me dizeres que é AI). «Mas é alguma coisa que eu possa usar já?». Que não, que há-de vir a comprar máquinas em que o pode fazer, uma vez que o seu hardware é compatível com nada do que aí vem. «Vou ter de comprar tudo?». Não necessariamente. Falámos de RCS (lol), de notas e mapas e até de emojis… sim, de emojis. «Eu já imaginava os meus catálogos a fazerem-se sozinhos, com aquilo a dar-me ordens…». Ainda é cedo para isso, Zé. «Então, mas isso são lantejoulas…». Isso.