Como nasce um utilizador Apple? Esta é uma boa questão que, de quando em vez, vem à discussão entre amigos e proprietários (porventura, deveria ter escrito ‘orgulhosos proprietários’). A maioria não reconhece as razões que os levaram à “conversão”. E sim, a analogia religiosa já foi mais presente; hoje, está mais diluída, porque se perdeu no tempo uma espécie de irmandade que, em alturas em que a quota de mercado era mais famélica, os utilizadores se reconheciam como uma espécie de sociedade pouco secreta.
Embora as influências que levam alguém a tornar-se um utilizador Apple (e, hoje, há vários níveis dessa utilização, do uso de um gadget apenas à completa imersão num ecossistema completo) sejam uma teia complexa de factores muito variados, que acabam por se combinar para fazer surgir uma expectativa positiva e satisfatória para o futuro utilizador, quem se inicia no universo da maçã trincada fá-lo quase sempre por influências externas (coisa que não acontece no mundo Windows, onde a adopção está tão banalizada que ninguém pensa nisso…). E, se hoje tudo está muito mais facilitado perante um problema ou uma dúvida (bendita Internet, louvada sejas), nem sempre foi assim. Vi utilizadores Apple “mergulhar” neste mundo, mesmo em condições geográficas adversas (não me esquecerei de alguém que, um dia, em Bragança, me disse «aposto uma garrafa de vinho que num raio de cem quilómetros não existe outro Mac» ou que o fizeram (e ainda fazem), sem dominar mais que meia dúzia de palavras em língua inglesa.
Como disse, o acesso ao conhecimento e à formação está, hoje, democratizado e nem a geografia, nem a língua são obstáculos a considerar, pelo que, “nascer sozinho” para o mundo Apple não provoca outra coisa que sorrisos. Os melhores casos de sucesso de adopção de que tenho memória são “infecciosos”, seja por via familiar ou por um fenómeno, (que de fenómeno pouco tem), que é o de assistir à resolução de problemas profissionais comuns que, noutras plataformas, podem exigir outros circuitos de trabalho ou ferramentas que produzam bastante menos, aquilo a que, na gíria, chamamos o ‘como raio é que fizeste isso tão bem e tão depressa?’.
Não será pela publicidade clássica, praticamente inexistente em Portugal, mas sim por outras formas de divulgação que não sendo mensuráveis, têm um peso nas adopções tantas vezes esquecido. O que importa é fazer. É ligar e trabalhar, dando forma à imaginação, produzindo resultados. «Eu ligo isto e não penso em muito mais, senão na razão que me fez ligar o computador» – e, no fundo, é isso que importa. Em qualquer plataforma. Se tiver uma maçã dentada, tanto melhor.
À memória de Ana Maria Bruyns