Não é que eu costume ceder a relatos de experiências de hardware em segunda ou mesmo terceira mão, mas confesso que estou impressionado com os que me chegam de diversas fontes norte-americanas que já experimentaram o Apple Vision Pro, a última revelação de hardware que fez ondas no mercado noticioso. Tenho de fazer uma crucial declinação de responsabilidade, dado que vejo tremendamente mal, uso próteses oculares de grande volume, graduação pré-Hubble e raramente me senti confortável com o uso de headsets, que são sempre muito pouco compatíveis com a usabilidade e ergonomia necessárias. Esta é sempre a primeira pergunta que faço a fabricantes: «Como é com óculos de graduação elevada?» Fala-se sempre muito pouco destas questões, quase laterais, mas tive a sorte de um dos meus “testers” ser um alto míope que sofre das mesmas limitações que me tocam. «Nada que não resolvas com a inserção de lentes graduadas, que estão previstas poder usar no equipamento (como extra, obviamente)». Fiz as contas e adicionei, ao amargo preço base, cerca de quatrocentos euros, o que à partida me poupará algum dinheiro em lágrimas artificiais!
Bom, mas não foi por isso que recebi apreciações; aquilo que quis, de facto, saber era como tinha sido a experiência de “gente comum”, experiente em tecnologia, mas que não faz parte do exército de marketing dos “reviewers” profissionais. As primeiras reações de usabilidade são francamente promissoras, mau grado alguns problemas de juventude na persistência de janelas de algum software. Se, para muitos, a imersividade é algo que encaram com naturalidade, para outros requererá algum tempo de habituação. Há uma clara fronteira entre aqueles que experimentaram em ambiente “seguro” (no interior) e aqueles que não perderam tempo em fazer o teste em ambiente urbano e, logicamente, com maior potencial de agressividade.
A facilidade de utilização parece ser um ponto comum a quase todas as experiências. Não me espanta, é um produto Apple. Nota maioritariamente positiva para o tracking quase perfeito que a bateria de sensores faz ao movimento ocular (“iluminando” ícones e janelas com uso potenciado), tornando absurdamente natural a sequência de utilização. Notas negativas para o volume, cor e potencial desgaste de materiais usados. Mas notem que estes são apontamentos de “pessoas normais”, mais ou menos adeptos Apple. Gente real, que tem noção de custos e não está obrigada a dizer maravilhas por obrigação contratual.