Nunca uma tecnologia afectou tão profundamente, e em tão pouco tempo, o rumo da humanidade, como a Internet. O seu papel transformador e integrador nas comunidades é muito relevante do ponto de vista da equidade social, especialmente no que diz respeito aos direitos de liberdade de expressão e acesso à informação. Algo que pode se revelar particularmente relevante quando o acesso à Internet continua a ser, na esmagadora maioria dos casos, um produto comercial.
Tal como nos serviços de fornecimento de água, a utilização da Internet, per se, é gratuita, tendo o utilizador “apenas” de suportar os custos com fornecimento do ponto de ligação dos seus equipamentos à rede das redes. Mas, apesar de muitos países (como Portugal) já reconhecerem a importância social da Internet e, como tal, subsidiarem o acesso à mesma aos mais jovens e carenciados, em muitos outros casos, a Internet continua a ser vista como um serviço de entretenimento, sendo a sua implementação e fornecimento regida puramente pela lei da rentabilidade comercial. Com isto, locais mais remotos e de baixa concentração populacional têm de pagar mais por serviços de menor qualidade; já locais de alta concentração populacional dão prioridade a largura de banda pelo valor pago e não pela segurança da qualidade do serviço ou relevância da comunicação.
Por outro lado, a forma como acedemos à internet também evoluiu drasticamente: passamos de computadores corporativos partilhados por múltiplos utilizadores para utilizadores com múltiplos dispositivos pessoais. Isto tem uma influência brutal nas infraestruturas necessárias para assegurar esses acessos, na sua tipologia, volume de tráfego, níveis de redundância e expectativas de acessibilidade. Estes novos níveis de exigência de serviço são, actualmente, tecnicamente incomportáveis para uma única tipologia de rede, sendo também inevitável a necessidade de unificação da conectividade móvel num único standard de comunicação abrangente, heterogéneo e, acima de tudo, transparente para os utilizadores. Devido a estas necessidades, muitos dos novos standards estabelecidos para redes móveis de sexta geração passam, de momento, pela conjugação de tecnologias e infraestruturas diferentes para servir necessidades diferentes.
Para locais de grande concentração de utilizadores, continuarão a evoluir as redes de ondas milimétricas de alta frequência e baixo alcance; para locais mais remotos, as redes formadas por satélites de baixa órbita assegurarão uma cobertura mais vasta, que começará por dar prioridade a comunicações de poucos dados, como chamadas, mensagens de texto e emergência ou recolha de dados IOL com base em Edge computing, até conseguir uma largura de banda mais abrangente. Com a evolução conjugada destas duas vertentes tecnológicas, acredito que, num futuro mais remoto, será possível minimizar as limitações de cada uma delas e conjugar as suas vantagens, para atingir uma rede de comunicações verdadeiramente global com a mesma conveniência que temos hoje, com os sistemas globais de posicionamento.