A Google trata o português Europeu pior que o Jorge Jesus, os entrepreneurs, e os concorrentes do Big Brother, todos juntos. Não bastava o Google Docs estar sempre a corrigir para pt-br, o Bard AI e afins só falam a língua do país irmão. Há razões para isso, mas Portugal está a ser discriminado.
A língua pode ser pátria, disse Fernando Pessoa sem sentimento político ou social, e o português é uma boa para se viver. É uma língua rica, melhor que a que se lê nos conteúdos feitos à pressa, nos livros do Chagas Freitas, da que se ouve da boca dos comentadores da TV.
Como escriba profissional, uso ferramentas que reduzem o erro. Estas crónicas são escritas no Google Docs, que ajuda a evitar gralhas, mas que me sugere corrigir “diatónico” para “diatônico”. O Bard só fala português do lado de lá. E justifica: como o pt-br é a variante de português mais falada no mundo, ele usa “os padrões de grafia e sintaxe que são comuns no português do Brasil”.
É lógico, mas injusto. O pt-pt pode não ter a representatividade do pt-br, mas não pode ser tratado de forma diferente que o inglês, respeitado em todas as suas variações, do en-au ao en-us.
Com a massificação dos conteúdos artificiais, o pt-pt vai pra cucuia. A língua evolui, mas isto é obliterar um idioma porque não tem peso suficiente para a Google. Para quê ter uma língua oficial, se uma corporação decide que ela não é valiosa o suficiente?
Não é xenofonia – o ódio ao que soa diferente. O Português do Brasil é uma língua de mérito próprio e identidade inequívoca. Tem uma sonoridade belíssima, expressões e vocabulário vindos da mistura de povos que é o Brasil, uma lógica que só a ela pertence. É brasileiro, como hindi ou galês.
Devíamos exigir um tratamento igual para o Português Europeu, sem sentimentos políticos e sociais ou demagogia. Devíamos também ler mais e estimar melhor as palavras que usamos para nos fazer entender.
Parafraseando o bardo: «A vida é a arte do entendimento, embora haja tanto desentendimento pela vida».