Conseguem imaginar a montanha de produtos de tecnologia que está neste preciso momento perdida no mundo, separada, involuntariamente, dos seus donos? Todos nós já perdemos objectos tecnológicos, grande parte deles até pode ser facilmente recuperada com maior, ou menor dose, de esforço e sorte. Mas os de maior valor, esses estão estatisticamente malfadados, porque são apetecíveis: quem os encontra não tenciona fazê-los regressar ao legítimo proprietário, seja para uso próprio ou venda num mercado onde pulula hardware que foi perdido ou mesmo roubado.
Ao longo da minha vida pessoal e profissional, já fiz regressar à origem dúzias de computadores, centenas de telefones, a maioria numa fase em que era necessário algum trabalho de detective para identificar o proprietário. Os fabricantes também fizeram evoluir bastante os sistemas de deteção e localização. Hoje, é relativamente mais simples devolver um objecto tecnológico perdido ou furtado, porque o próprio dono pode dar passos significativos para comunicar com quem o encontrou. Pelo menos em teoria. Do ponto de vista prático, isto acaba por não ser tão simples e desmoraliza qualquer alma mais honesta de tentar chegar a bom porto.
Tenho nas mãos um MacBook Pro encontrado numa sala de espera de um aeroporto internacional. Não sei quase nada sobre ele, mas ainda sei alguma coisa. Tenho um número de série (que me diz – a mim, apenas- em que região foi vendido), poderia dizer-me muito mais, se a Apple estivesse disposta a colaborar caso tivesse sido uma venda directa. Mas não está. É absolutamente inabalável no sigilo de dados, o que até me parece bem. Mesmo que eu não os queira para nada e que só pretenda que avisem o Sr. Mohamed de que o seu MacBook está aqui em casa, ligado à corrente caso o dono acione um Lost Mode ou mande um sinal de vida e contacto.
Isto também me mostra que, por muito que os sistemas estejam preparados para ajudar, os utilizadores não usufruem desses mecanismos. O equipamento não tem qualquer etiqueta, tudo o que me é visível é o nome de login do seu utilizador, o Sr. Mohamed Fenzar, que a esta hora estará a maldizer um momento de infelicidade. Tenho, a espaços, contactado vários Fenzar, que por manifesto azar parece ser um apelido tão comum como Silva, no mundo arábico. E era tão simples de devolver isto. Basta que os próprios donos queiram e saibam.