O YouTube é capaz de ser a plataforma mais esquizofrénica que existe e está a levar alguns criadores à loucura. Bem-vindos ao lamaçal que se tornou a criação de conteúdos e ao mundo kafkiano das regras que protegem os interesses de uns, mas não das pessoas que fazem com que o YouTube seja relevante.
Um dos meus canais de YouTube favoritos é o Venus Theory, um moço rabugento de bigode que fala de música e de criatividade. Para ilustrar uma ideia – como todos os outros YouTubers – usou um excerto de um vídeo que, neste caso, era de um canal informativo e que está disponível no YouTube sem restrições, monetizado e com cerca de onze milhões de visualizações. Mas, no caso dele, foi assinalado por apresentar violência extrema.
A consequência imediata foi a desmonetização do conteúdo mas, a longo prazo os efeitos podem ser mais pesados. Todos os criadores do YouTube que vivem sob a escravatura do algoritmo sabem que qualquer desvio à norma pode afectar a visibilidade, quer do vídeo, quer do canal. E, se o YouTube quer conteúdos de qualidade criados por pessoas que se dedicam a tempo inteiro à sua produção, não pode penalizar quem faz do YouTube a plataforma mais visitada da Internet.
As regras do YouTube são tão ridículas que, de cada vez que o Venus Theory usa uma música da sua autoria, recebe uma notificação de violação de direitos de autor com possibilidade de ver o seu vídeo desmonetizado – isto é o mesmo que dizer que não recebe o seu quinhão dos lucros. Não é como se tivesse usado a Stairway to Heaven como música de fundo – aí, arriscava-se a levar com um par de calças de cabedal do Jimmy Page, usadas sem roupa interior nos anos setenta, na cara. Ou ver o canal cancelado.
Resolver a questão com o YouTube é uma aventura inspirada nas obras de Kafka e passada num labirinto de Escher. Se pensarmos que o lema original da Google era ‘Don’t’ be evil’, até dá alguma vontade de rir.
Como ficou o Venus Theory? Procurem ‘So YouTube Destroyed My Last Video’ no seu canal e vejam. Vale a pena.