Imaginem um site que escreve artigos automaticamente a partir da pesquisa que fizeram. É esse o futuro. A inteligência artificial está a mudar a produção de informação mais rapidamente que a conseguimos consumir, numa sociedade em que metade das pessoas tem um nível de literacia abaixo do desejável.
A terceira revolução na interação com sistemas digitais está aí. Não acreditem em mim, leiam o Jakob Nielsen, que estuda há uns anos o nosso relacionamento com as máquinas.
Se os dois primeiros paradigmas de interacção ‘utilizador-máquina’ implicavam dar ordens específicas para gerar resultados, o terceiro trazido pela IA é diferente – já não precisamos de dar ordens; ‘pesquisa por’ (subentendido na caixa do Google) ‘receitas de polvo’ é substituído por ‘quero um prato de polvo à lagareiro para um almoço de amigos, um deles não come glúten’. O imperativo e exacto dá lugar ao narrativo e contextual.
Na realidade, esse é o caminho dos motores de busca, que deixarão de dar listas de resultados e gerar respostas com formatos aplicáveis: artigos, parágrafos com referências, manuais de instruções, etc.
Imaginem que querem saber quanto calça cada um dos craques do vosso clube e como isso afecta a eficácia de passe. É para um trabalho da escola. O departamento de marketing do patrocinador já compilou essa informação e, explicitando a nossa intenção, a IA até pode criar um histórico estatístico com gráficos dos pés 42 com maior percentagem de eficácia dos últimos quinze anos. É a primazia da engenharia do significado sobre a poesia.
Ainda de acordo com Nielsen, metade da população terá dificuldades em usar o novo paradigma da IA, assente numa interface verbal, por lhes faltar competências básicas de literacia. A IA vai trazer mais fake news, mas irá trazer também self made news. Até porque, como alguém disse, a IA não nos apresenta informação: apenas diz o que queremos ouvir.
Gerar informação apelativa era um trabalho para criativos. Agora, é o futuro de engenheiros formados em inglês técnico.