Agora o drama é se as notícias geradas por inteligência artificial vão matar o jornalismo, a actividade mais masoquista que conheço, para quem a exerce e para quem consome os seus produtos e derivados. A má notícia é que jornalismo é coisa rara por estes dias. A boa, é que ainda o podem salvar.
Olá, o meu nome é Alex Gamela e sou um ex-aspirante a jornalista, recuperado desde 2013. Posso dizer-vos que grande parte do que vêem nas notícias não é mentira, mas não é jornalismo. Aliás, o jornalismo morreu há uns anos, mas os influencers sabem que publicações dessas não dão seguidores ou likes. E, se os influencers não falam, é porque não importa.
Apliquemos uma fórmula de sucesso para criar a próxima frase: ‘tópico em tendência + ameaça + algo que tomamos por adquirido + suspense’: «Inteligência Artificial pode substituir jornalistas. Vocês não imaginam o que acontece depois».
O CEO do Axel Springer, um grupo de media alemão, vê na IA uma oportunidade para salvar o jornalismo independente. Como? Mais conteúdos, menos custos. É sempre um CEO que se sai com esta lógica, e nunca os afectados, que são os jornalistas mal pagos e sobrecarregados de trabalho, o que não lhes permite fazer jornalismo em condições.
A IA não se queixa das horas, não tem princípios éticos e deontológicos e não se nega a uma boa história, mesmo que seja mentira. Esperem: também há inteligências humanas que não têm esses problemas. Não são todas, mas são demasiadas.
O que acontece, depois, já está bem à vista de todos e há muito tempo. Há uma possível salvação: livres da produção de conteúdos, os jornalistas podem voltar a fazer o seu trabalho. Mas, onde, se o dinheiro vem dos cliques?
A função do jornalismo é informar a sociedade para que os seus membros tomem decisões informadas. É por isso que é um pilar da democracia e de uma sociedade livre. Por isso, vejam as “notícias” de hoje e avaliem a qualidade da liberdade que têm. Mas não lhe dêem chutos para testar a solidez. Ainda se arriscam a deitá-lo abaixo.