Sou conhecido entre os meus amigos por ser obsessivo no que diz respeito a backups. Não me serve de muito, porque continuam a suceder desgraças tremendas com informação de muitos desses amigos e, backups, nada. Não consigo entender e receio vir a falecer sem que alguma vez o perceba. Estou há cinco horas a ver uma sessão de uma Comissão Parlamentar de Inquérito a respeito do alegado furto de um computador do Estado. Tempo que ninguém, absolutamente ninguém, me vai devolver. O ex-assessor, agora acusado, escrutinado, interrogado, e muitas outras coisas com que eu nem posso sonhar, voltou ao Ministério para recuperar um equipamento que tinha informação que lhe era preciosa. Só lá voltou porque, claramente, não tinha backups, o que para mim já justifica justa causa para meia exoneração.
Toda a gente sabe que temos uma relação estranha com a maioria da nossa informação. O laxismo é pior que um vírus ou um malware. O síndrome do ‘amanhã trato disso’ já nem é desculpa, porque a maioria dos sistemas é autosuficiente nestas questões. As pessoas não colocam a salvo a sua informação porque acham que os equipamentos são indestrutíveis, que os azares só acontecem aos outros ou porque têm coisas mais importantes para fazer (oh, a ironia…).
E, imagine-se, tudo tende a piorar. Com a profusão de sub-sistemas de comunicação, com apps de todo o género e qualidade, na quais assentamos uma generosa parte das nossas vidas pessoais e profissionais e que dispõem de mecanismos autónomos de backup (que por sua vez também precisam de ser autonomamente geridas), temos a génese perfeita do Holocausto de Dados. Não tenho dúvidas de que estas audições parlamentares vão fazer com que mais pessoas queiram conhecer e tentar dominar as nuances das suas aplicações de mensagens. Centenas delas vão saber, pela primeira vez, que algumas dessas apps permitem que mensagens se autodestruam ao fim de alguns dias (muitas delas saberão disto da pior maneira). A frase que tantas vezes ouço, um ‘perdi tudo’, vai-se repetir escusadamente.
P.S.: Sá há uma razão de peso para que uma pessoa tenha de voltar ao seu gabinete depois de afastado do seu posto. É para recuperar os Pirilampos Mágicos colados no monitor. Tudo o resto é mera culpa de quem trata informação preciosa de modo leviano.