Um dos principais perigos de quando estamos directa e exaustivamente envolvidos no desenvolvimento de uma nova imagem de uma marca é o de perder a capacidade de pensar fora da caixa. Muitas vezes procuramos formas de optimização em processos sucessivos que, por vezes, nos tornam incapazes de ver os problemas mais óbvios. Acredito que foi, efectivamente, o que aconteceu quando a Kia renovou o seu logótipo nos finais de 2020. Com o objectivo de conseguir uma imagem mais dinâmica e estilizada para definir a sua marca, afectaram de tal forma a legibilidade dos caracteres que compõem o seu logótipo, que houve centenas de pessoas a procurar informações sobre carros de uma hipotética marca ‘kᴎ’ ou ‘Kn’.
E, apesar de várias marcas de automóveis nem sequer usarem as suas siglas ou nome no seu logo, é realmente caricato que mais de trinta mil pessoas por mês continuem ainda hoje a procurar automóveis ‘kᴎ’ ou ‘Kn’, no Google. E se, a muitos, o interesse por um carro de uma marca desconhecida os levou a procurar pelo seu nome on-line (sendo prontamente direccionados para a marca correcta por um qualquer motor de busca capaz de reconhecer os milhares erros de “interpretação” dos cibernautas mais curiosos), seguramente, para muitos outros que contactaram, de uma forma ou de outra, com esta nova imagem da marca, perdeu-se a associação com um histórico de mais de oitenta anos. Esta perda efectiva de reconhecimento só será sanada com o tempo ou através do esforço acrescido de um plano de comunicação, reforçando a ligação da nova imagem ao legado da marca.
Não me interpretem mal: acho o novo logótipo da Kia muito interessante e alinhado com os princípios de comunicação propostos pela marca e, após uma breve explicação até mais fácil de entender e associar que o logo de outras marcas de fabricantes concorrentes. No entanto, no momento em que este logótipo foi validado, havia certamente alternativas em cima mesa que acarretavam menos risco.
Um pormenor não menos interessante é o de que o logo da Kia na Coreia do Sul (a sua terra natal) seja completamente diferente do resto do mundo: uma representação ainda mais estilizada apenas da letra ‘K’, algo que também não abona a favor de uma marca global que procura ter o máximo reconhecimento possível.