A não ser que o leitor tenha passado os dois últimos anos numa reclusão informativa, já deverá ter ouvido falar de um produto Apple designado por AirTag. São pequenos objectos dedicados a ajudar a localizar coisas perdidas, aos quais estejam agarrados. Isto é, basicamente, a história da minha vida: sou o tipo que larga tudo em todo o lado e que, depois de muito impropério, descobre a carteira dentro do frigorífico. Nesse aspecto, o AirTag mudou grande parte da minha vida. Agora, eu continuo a deixar as chaves do carro em qualquer lado, mas com a ajuda da tecnologia, levo muitíssimo menos tempo a proferir vocabulário vernáculo. Antes de mergulhar no seu uso na vida real, fiz testes, bastantes testes. Como sabemos, nos testes, quase nunca nada corre mal. Tive alguns AirTags a circular nos correios, fui sabendo do seu paradeiro, cheguei inclusivamente a pedir a um amigo que me “abandonasse” uma carteira num local à sua escolha para eu a poder localizar e recuperar. Tudo sem stress, no mundo do faz de conta tudo corre muitíssimo bem. Sempre.
E na vida real? Bom, o destino trouxe-me um teste de fogo. O perímetro da minha casa foi assaltado há duas semanas. Foi-me subtraída uma scooter eléctrica Xiaomi na qual tinha, atempadamente, colocado dissimuladamente um AirTag.
Como era suposto, a informação da localização do objecto roubado foi-me chegando com regularidade e com a precisão necessária, o que me permitiu, com bastante tranquilidade, ir fazendo o reconhecimento dos locais e preparar a recuperação. Aquilo que eu nunca tinha testado era até que ponto as autoridades estariam disponíveis para usar essa informação. Pois foi com agrado que os vi usá-la, trabalhá-la e tirar partido de algum trabalho prévio que conduziu a uma operação policial de recuperação do bem furtado. E também registei com satisfação o pedido frequente de que não tentasse a abordagem aos alegados amigos do alheio sem o seu apoio. Como cidadão, aplaudo ambas as questões. Aquilo para o qual eu não estava preparado é para saber demasiado. Mas sobre isso falaremos na próxima coluna.