Em 2022, ficou ainda mais claro que a forma como socializamos on-line está fortemente dependente de um punhado de empresas como a Meta, a Alphabet, a Tencent e a ByteDance. E, com elas, está o poder de conhecer e influenciar a nossa pegada digital muito para lá do tempo que dedicamos à utilização das redes sociais que gerem – algo que passa pela forma como todas elas oferecem a possibilidade de usar as suas credenciais para autenticação em outras páginas e apps.
O que, à primeira vista, aparenta ser uma forma simplificada e mais segura de aceder a serviços externos aos quais não queremos confiar os nossos dados ou criar novas credenciais, torna-se em mais um marcador externo para as redes sociais. Isto permite-lhes assegurar um rastreio alargado para lá dos seus próprios servidores, ajudando ao mesmo tempo a comprovar a efectividade dos seus processos de redireccionamento de tráfego.
Se pensarmos que, cada vez mais, investimos o nosso tempo nestas plataformas como fonte de entretenimento (e infelizmente também como fonte primária de informação) poderemos estar a depositar demasiada confiança nas empresas que nos oferecem todos estes serviços complexos, aparentemente a troco de nada.
Esta mesma confiança já foi várias vezes posta em causa: um dos casos mais mediáticos foi o que envolveu a Meta e a Cambridge Analytica, onde se comprovou que dados de milhões de utilizadores foram usados de forma abusiva e se confirmou a sua influência sobre várias decisões políticas. Um exemplo mais recente é o Twitter, em que o seu novo dono se deleita com constantes ameaças de alterações radicais, cesuras ad-hoc e outras formas de exposição exuberante que fazem lembrar os reis absolutistas do século XVII.
Apoiados nestas hierarquias quase feudais temos também todo um conjunto de criadores de conteúdos, de maior ou menor sucesso. Após investirem uma enorme quantidade de tempo e recursos para assegurarem uma audiência significativa numa determinada rede social, vêm-se presos a um processo de quase vassalagem perante as regras e algoritmos em constante mudança, definidos unilateralmente pelos soberanos dessas mesmas redes para as quais “trabalham”.
E, se devemos louvar estes soberanos que tiveram um papel-chave na passagem da Web 1.0 para a Web 2.0, creio que chegou o momento de assegurar uma Web 3.0 baseada de novo (tal como na primeira versão) apenas em standards abertos, em que até mesmo os mais pequenos programadores podem contribuir para estruturar e monitorizar uma integração natural e independente de todos os conteúdos.