É um «problema ambiental que ainda não existe, mas que há de chegar», lembra a equipa da Universidade de Coimbra (UC) que está a investigar um «bioprocesso» para reciclar resíduos de painéis fotovoltaicos: usar bactérias que «acumulam o telúrio» presente nestes resíduos, obtidos a partir de «painéis de filme fino cádmio/telúrio» em fim de vida.
O objectivo passa por usar esta técnica a «nível industrial», com base numa «plataforma integrada e sustentável», explica Jorge Pereira, um dos investigadores da UC, a que se juntam Rita Branco e Pedro Farias (CEMMPRE), José Paixão (CFisUC) Inês Costa (UC) e Helena Ribeiro e Carmem Gonçalves do (CIEPQPF).
Os responsáveis pelo projecto (que foi um dos vencedores do edição de 2022 dos Projectos Semente de Investigação Científica Interdisciplinar) dizem que o material reciclado pode, depois, ser usado em biomedicina e biotecnologia: «Por exemplo, se [o telúrio] for na forma de nanopartículas para uma aplicação biomédica terá um valor muito superior».
Equipa deparou-se com um problema, mas resolveu-o
As bactérias foram o recurso escolhido para fazer esta “reciclagem’, uma vez que permitem adicionar ao processo «solventes de origem biológica»; assim, é possível ter uma «pegada ambiental negativa».
Numa primeira etapa, a equipa deparou-se com um desafio: o facto de o processo de conversão do metal em nanopartículas pelas bactérias acontecer «dentro da célula», levou à necessidade de a «romper» para «extrair as nanopartículas, purificá-las» e, de seguida, fazer a sua «caracterização e avaliar as potenciais aplicações», diz Jorge Pereira (no vídeo, em cima).
Segundo o investigador, esta etapa da investigação foi «bem-sucedida», pelo que a equipa conseguiu mesmo, com a ajuda das bactérias, fazer a «redução de telúrio em solução para uma forma utilizável em termos de partícula metálica».
Empresas de reciclagem têm de entrar em acção
Na segunda fase, que já está a decorrer, o objectivo é «caracterizar as nanopartículas obtidas» para «averiguar se têm propriedades físicas e químicas», de modo a poderem ser «testadas como biossensores ou em outras aplicações biomédicas».
Finalmente, a equipa da UC quer testar este processo em painéis solares reais, mas para isso será preciso a ajuda de outras entidades: «É necessário encontrar uma empresa que trabalhe na reciclagem deste tipo de equipamentos ou empresas que produzem e façam a recuperação desses painéis», conclui Jorge Pereira.