Foi já depois de ter visto todos os seus bens serem confiscados, que Horácio (65 a.c – 8 a.c.) conseguiu trabalho como escriturário, iniciou a sua obra literária e conheceu Virgilio, que o apresentou a Mecenas. É este que o convoca para um círculo de artistas protegidos e se torna um dos poetas oficiais do estado.
BeReal e Momento são duas aplicações, sem qualquer relação que não seja o tempo e o que fazemos com ele ou a falta dele. Em Odes, Horácio exalta o ‘seize the day’ tão bem exposto por Robin Williams no Clube dos Poetas Mortos.
A BeReal é uma rede social que lhe pede que capture, sem qualquer tipo de filtros, uma foto por dia, utilizando as câmaras frontal e traseira para que, quem faz parte da sua rede veja como, onde e o que está a fazer. A notificação chega-lhe uma vez por dia, sem qualquer pré-aviso e, fazendo uso do conceito original da aplicação, deve tirar essa foto até dois minutos após receber o alerta. Se não, poderá ver a dos seus amigos. A simplicidade da aplicação pretende eliminar o glamour dos influencers do Tik Tok ou do Instagram, mostrando, sem filtro, a vida de cada utilizador, naquele momento.
A app Momento joga também com o tempo, mas mais com a sua carteira. É uma plataforma de leilões de camisolas usadas pelos jogadores de futebol em determinada partida. Podia ser algo mais elevado e contribuir para alguma causa… mas não. É apenas uma oportunidade, para quem é fã extremo de um jogador ou equipa, de ficar com a camisola de Messi, João Félix ou Rafa. As parcerias da empresa foram, para já, feitas com quatro clubes europeus – em Portugal, com o Sport Lisboa e Benfica – e com alguns atletas, de forma individual.
Vive do tempo, também, porque recebe no momento do início da partida a notificação de que pode iniciar a licitação da camisola do jogador que pretende. Se tiver umas centenas (ou milhares) de euros dispensáveis para dar por uma peça de “memorabilia”, em alguns casos usada pelo seu jogador favorito naquele jogo tão especial… chute a sua licitação!
A realidade é que a vida é um sopro e, já que estou numa onda poética, arrisco Baudelaire: «É necessário estar sempre embriagado… para não se sentir o horrível fardo do Tempo. De quê? Vinho, poesia ou virtude. Mas embriagai-vos». Digo eu: «Nem que seja com uma camisola do Maior!».