Iniciámos esta conversa, no mês passado, sobre as agruras do salto para o desconhecido, no caso de um upgrade de sistema sem as devidas precauções. Já fechámos esse capítulo, mas Murphy deve ter lido esta coluna, porque logo a seguir comecei a ouvir alguns utilizadores sobre o upgrade para o iOS 16. Quem tem um iPhone compatível foi notificado da existência de uma versão completamente redesenhada e decidiu instalá-la. Ponto. Está feito.
Não deixa de ser algo divertido: as pessoas querem e aceitam uma evolução de sistema, mas não estão prontas para sair da sua zona de conforto. Quando as mudanças são radicais (e algumas no iOS 16 são-no mesmo), queixam-se. Em que ficamos? Queremos uma actualização, mas se houver novidades gráficas já não achamos assim tanta graça? Eu não sei se isto é um fenómeno estritamente português (mas receio bem que não), mas há aqui incongruências severas.
Depois de instalar o iOS 15 deitei fora, intencionalmente, algumas apps que se tornaram desnecessárias, porque o sistema passou a colmatar essas falhas. Quase um ano depois, ainda espanto alguns amigos com o potente editor de capturas de ecrã (ou de fotos em geral). No fundo queremos ser modernos, mas não queremos explorar as novidades. Talvez por preguiça, talvez por receio do desconhecido. A verdade é que nunca houve tanto material explicativo na Web sobre novas features de sistemas.
Mas quanto mais há, menos queremos explorar. Pergunto a muita gente porque é que não se senta uns minutos a ver um tutorial específico sobre um dado tema. A resposta é, quase sempre, «falta de tempo». Quando lhes digo que um investimento de cinco minutos pode, muitas vezes, poupar horas em operações repetitivas que fazemos há anos, as pessoas preferem os velhos hábitos do «ah, mas eu sempre fiz assim, isto é Apple, devia ser simples». É um dilema que eu tenho manifesta dificuldade em perceber; ligo isto imensas vezes à operação de apps por crianças, que não requerem explicações, que se atiram a desbravar uma app sem qualquer indicação ou instrução. Fazem-no e pronto. Já os adultos fazem um drama perante um botão a que não estejam habituados ou uma função que nunca tenham visto, na qual não carregam como se o telefone fosse explodir por causa disso. Adultos!